O conceito de “mãe é quem cria” foi absolutamente redefinida.
De vez em quando eu fico até com medo de chegar a conclusões a respeito de filmes e modas cinematográficas.
Mas neste caso eu tô é com medo da vibe que vem vindo lá do norte europeu, dos países escandinavos.
A região que nos dá a aurora boreal tem nos ofertado com filmes bem estranhos, bem bizarros, sempre envolvendo famílias lindas e seus novos bebês como por exemplo, Lamb, um dos meu filmes preferidos de 2021 que está disponível no Mubi.
Enquanto no filme sueco um casal de fazendeiros começa a criar um filhote de ovelha como se fosse seu bebê, no finalndês Hatching, uma menina acha um corvo (eu acho) sofrendo no quintal de sua casa.
Depois de acabar com sua dor, ela encontra um ovo no ninho agora abandonado e leva para seu quarto para incubá-lo, para que o cobertor de sua cama faça as vezes do calor da mãe morta.
O “hatching” do título.
Essa garota lindinha, loirinha é Tinja, a filha perfeita do que parece ser a família ideal, com a mãe loira e obcecada pela perfeição toda da filha, do pai loiro de camisa polo e cardigã no ombro, do filho loirinho nerd e chato.
O sonho da mãe é que Tinja seja a grande estrela do time de ginástica olímpica da escola mas a menina está longe da perfeição nos treinos, o que faz com que a mãe a force a treinar até não poder mais.
No tempo livre, a mãe tem um caso com o faz tudo da casa da família perfeita e quando Tinja vê os 2 se pegando, ela resolve assumir e passar a semana com o marido e os filhos e os finais de semana com o bonitão.
Lá no quarto de Tinja, o ovo vai crescendo desmedidamente e quando se quebra, de lá sai o pássaro mais horroroso possível, que além de tudo é do tamanho da própria Tinja.
Aos poucos a criatura vai se tornando o animalzinho de estimação da menina que lhe dá banho, cuida com carinho e até regurgita comida para ela se alimentar.
Para demonstrar gratidão, a criatura que se esconde embaixo da cama da menina acaba resolvendo probleminhas da menina sem que a fofa peça, já que elas vão criando um laço quase de intimidade quase metafísico.
Tinja e Alli (a criatura fala seu nome em um momento da história) já são minha dupla preferida do ano.
O que a diretora Hanna Bergholm faz em sua estreia nos longas é de uma delicadeza linda que do nada se transforma em caos, como 2 faces da mesma moeda que nunca se encontram mas convivem em seus opostos radicais.
E mais: como escrevi lá acima, em Hatching o conceito de mãe é discutido e revisto o tempo todo com a mãe nóia de Tinja que só está preocupada com o sucesso da filha a qualquer custo, com a menina que depois de ver o pássaro morrer pega seu ovo para criar e tem ainda a filha bebê do faz tudo amante, que a namorada, mãe da menina, já chama a recém nascida de filha mesmo não sendo sua filha.
Hatching é um body horror delicinha que assusta não pelos sustos em si, mas por nos jogar na nossa cara mal lavada que a gente não pode negar a nossa família de sangue, infelizmente (neste caso) mas que a gente pode sim escolher quem a gente ama de verdade.
O único detalhe é que o amor nem sempre é encarado da forma que deveria.
Ou melhor, o amor é um conceito bem relativo, dependendo de quem o demostra e principalmente como o demonstra.
(ó lá, dei uma dica aí num dos trocadilhos mais sutis na história dos trocadilhos)
NOTA: 1/2