Nenhum, eu repito em maiúsculas, NENHUM horror lançado ultimamente nessa nova moda de luzes vermelhas em quartos verdes e trilha composta em sintetizadores de timbres setentistas presta homenagem tão linda ao Giallo e principalmente ao mestre Dario Argento Como esta pérola espanhola.
A Avó é um filme dirigido brilhantemente por Paco Plaza, o cara que já tinha nos mostrado que era bom demais com seu horrorzão desgraçado Veronica de 2017, que eu tanto amo.
A avó do título tem um derrame que a deixa de cama permanentemente e faz com que sua neta, que mora em Paris, trabalha como modelo e está prestes a ficar famosa, ter que voltar a Madrid para conseguir uma cuidadora para a idosa.
O que Susana não esperava era que retornar ao apartamento que passou tantos dias memoráveis de sua infância, seria uma verdadeira temporada nas profundezas de um inferno que ela não faz ideia se conseguirá de lá sair.
Enquanto Susana vai tentando colocar a vida da avó inválida (amei os v’s) nos eixos para poder voltar a sua própria vida francesa, ela percebe que nada está sendo tão fácil.
E assim Paco Plaza vai nos conduzindo à sua escalada às profundezas do horror psicológico, nos fazendo passar por momentos onde sanidade e loucura se confundem de uma maneira quase poética, para nosso desespero mas principalmente para o desespero de Susana que quer aos poucos vai percebendo que o quanto antes ela se livrar de sua avó Pilar, mas chances ela terá de não se perder.
E os degraus que Susana desce mais e mais são todos, afirmo categoricamente, homenagens ao Giallo e a Argento, como já disse acima, com cenas incríveis como uma que Susana vai comprar espelhos para o apartamento da avó, onde já vemos o que virá, com a câmera acompanhando a imagem Susana fragmentada por vários espelhos que lhe estão a disposição.
Mas o ponto alto da sutileza do grande Paco é um close de uma vítima de um acidente, momento que se eu estivesse assistindo esse filme na plateia do Festival de Cannes com certeza bradaria em alto e bom som “Dario”, como fazem os amantes de Raoul Ruiz que clamam pela diretor chileno nas sessões mais aleatórias da festa cinematográfica da croisette francesa.
Antes de ir-me, devo fazer um aceno a Almudena Amor, a ótima atriz que me surgiu aos olhos em O Bom Patrão e que aqui se entrega na pele de Susana e também, mas principalmente, a diva brasileira que vive Pilar, a avó moribruxa.
Vera Valdez é uma das grandes modelos brasileiras que fizeram sucesso na Paris da década de 1960 como musa de marcas icônicas como Schiaparelli e Chanel, estrela de muitos filmes brasileiros, amiga de Bertolucci e Louis Malle, que a ajudaram a sair do Brasil quando seu marido foi preso pela ditadura militar e ela também foi presa e torturada.
Ela mostra aqui como Pilar que continua firme, forte e pronta para muito mais.
NOTA: 1/2