Dentre muitas surpresas boas e mais ainda decepções, termina mais uma edição do ótimo Fantaspoa.
E o grande filme brasileiro do Festival é o cearense A Praia Do Fim Do Mundo, do grande diretor Petrus Cariry.
O povo da preguiça diz que A Praia é a versão nordestina de O Farol.
E isso me dá mais bode do que elogio a filme porcaria só porque é brasileiro, como se a gente tivesse que pensar diferente sobre uma produção feita por aqui.
A única semelhança entre A Praia e O Farol é que ambos foram rodados em preto e branco.
E olhe lá, porque a abordagem fotográfica não poderia ser mais diferente entre um e outro, sendo que o americano é mais cinza que P&B enquanto o cearense é denso, pesado, quase caravagiano.
Talvez uma outra semelhança entre os 2 filmes é a presença de 2 monstros sagrados do cinema atual: Willen Dafoe lá e a maior de todas as atrizes brasileiras, Marcélia Cartaxo, por aqui.
O filme fala de uma praia que está prestes a sumir porque está sendo tomada pelo mar, algo que quem mora por lá não pode fazer nada ao mesmo tempo que elas (sim, o filme é totalmente feminino) se sentem de alguma forma culpadas por terem que sair, por não quererem de lá sair e pior, por quererem sair sem olhar para trás, dependendo da personagem e dependendo da ligação de cada mulher com suas ancestralidade, com sua história e também com sua culpa.
O mar no cinema de Cariry é mais importante que o oxigênio que suas personagens respiram, desde sempre.
E nesta praia, o mar dita o futuro, apaga o passado e faz com que o presente seja passado o mais rápido possível, independente do querer das personagens, de suas lutas pela preservação da praia e de suas histórias.
As relações entre a mãe de Marcélia e sua filha que está grávida remetem muito ao passado melancólico e passivo, o presente contestador e ativo e o futuro que ninguém conhece mas que vem, se vier, cheio de esperança.
O filme é uma pérola que já passou pelo Canal Brasil e que se tivermos sorte, fica disponível pra ser visto e revisto.
NOTA: