Chega de filminho porcaria da Netflix, né.
Chega de preguiça, chega de cansaço, chega de “ai tô estressado e quase não consegui postar“.
Reage!
Voltamos com a nossa programação normal de filmes lindos AND bizarros aqui neste blog pra falar de um filme que estava guardado desde o ano passado na minha pasta mental de preferidos e só ontem percebi que não tinha escrito sobre Patrick.
Vi o filme no Fantasia Festival de 2021 e sempre que lembro de Patrick penso “que bom que existem produtores que bancam ideias malucas de diretores e roteiristas que são bem fora da casinha”.
O Patrick do título é um cara de seus 30 e tantos anos de idade, com alguns probleminhas de ordem mental, digamos assim, que gerencia o campo de nudismo de seu pai.
Sim, prepare-se para ver todo mundo pelado o tempo todo nesta pérola belga, falada em flandres, onde eu te garanto que o apelo sexual, apesar dos motivos óbvios, será quase que nenhum.
A ousadia toda de Patrick começa pelo motivo do filme: logo no início quando o pai do peladão morre, ele fica mais preocupado com um martelo que sumiu de sua coleção de ferramentas que fica na casa que ele vive.
Enquanto Patrick continua trabalhando para que o campo de nudismo funcione como deve e por consequência ele recebe as condolências de todos que lá estão, porque são praticamente uma família disfuncional gigante que não gosta de usar roupas, ele só tem uma coisa na cabeça: encontrar seu martelo, porque o espaço vazio na parede de ferramentas acaba com a sua (a)normalidade.
Patrick não é sobre pudor ou tensão sexual ou quem tem o pinto maior ou o peito menos caído, discussões que poderiam ser levantadas imediatamente em um filme desse calibre.
Mas Tim Mielants, responsável por essa pérola, cutuca mais embaixo. (E olha que cutucar embaixo em um elenco sem roupa é um detalhe quase despudorado).
Patrick é sobre prioridades, sobre amor, sobre responsabilidade, sobre idiosincrazia.
Nada neste filme é óbvio, nem sua estranheza e muito menos os tapas com luvas de película (desculpe, não me contive) que recebemos o tempo todo, sempre que nosso olhar se desvia para uma parte íntima de algum personagem quando, como já disse, o sexo, o desejo, o apetite físico neste filme é zero.
Além disso tudo, Mielants nos entrega uma das cenas de funeral mais lindas deste século.
Patrick é sobre ser quem você é onde você quiser, é sobre fazer o que você quiser como você quiser.
E isso diz muito sobre seu diretor, que nos entrega uma história tão estranha e tão fofa que ao mesmo tempo nos incomoda tanto e que depois de algum tempo eu percebi que incomoda não só pela falta de figurino nos personagens, mas sim porque tudo é tão ingênuo e natural que parece alguma coisa que se passa em um universo paralelo ao nosso, onde essa ingenuidade já não existe mais, nem a cinematográfica, onde tudo parece ser milimetricamente estudado para chocar (sim, tô falando dos filmes da sua queridinha A24).
P.S.: melhor curiosidade do filme é ver a transformação física do grande Kevin Janssens para viver Patrick. Olhe as fotos:
NOTA: 1/2