Como faz falta um Balzac na nossa vida!
E o pior é que, no meu caso, só lembrei desse buraco no meu coração assistindo essa ótima versão cinematográfica de uma de suas obras primas.
Ilusões Perdidas é um filme que fez muito sucesso no último ano na França, estreou no Festival de Veneza, teve 7 vitórias no César, o Oscar francês, incluindo melhor filme, roteiro adaptado e fotografia, o que explica a grandeza dessa adaptação..
O motivo?
Ilusões Perdidas é a história de um jovem poeta bem pobre que vive no interior da França e é apaixonado por uma Baronesa, casada com o dono das terras onde ele vive.
Para evitar um escândalo enorme onde envolveria sua família, Lucien foge para Paris, onde aos poucos vai conseguindo trabalhar em um jornal, aprende a sobreviver na época em que o jornalismo alcança patamares de grande poder.
E o mais louco é que já naquela época, esse poder do jornalismo está ligado ao que era conhecido como pato selvagem, hoje conhecido como fake news. E Balzac explica que como esses patos, as notícias falsas, inventadas, as mentiras publicadas eram praticamente impossíveis de ser capturadas depois de “soltas”.
No jornal que Lucien começou a trabalhar, onde aprendeu o “gingado” de gente grande, de como sobreviver na metrópole e principalmente aprendeu que o mundo é muito mais cruel do que ele viva em sua cidadezinha.
A história de Ilusões Perdidas mostra o quanto o poder do dinheiro é maior que tudo, que a arte, que a personalidade, que o pudor, que a moral. E o quanto Lucien deixa de lado os seus amores, o carnal, o filosófico e todos os outros em função de “ter que pagar as contas”.
Balzac critica tudo e todos, até o grande poeta francês Racine, com um chuva de tomates em um busto com seu nome.
Jogos de poder, pequenos poderes, ganância, tudo isso transforma o jornal no que mais parece uma agência de propaganda, afinal a filosofia do diário é “pagou mais, a gente imprime”.
Se o dono do teatro, ao estrear um peça, tem dinheiro o suficiente para pagar uma crítica positiva, o jornal publica.
Se seu concorrente tem mais dinheiro e cobre a oferta, o jornal publica.
Lucien, no meio de tudo isso, vendo o dinheiro entrar em seu bolso indiscriminadamente, vai se deixando levar, tendo suas ambições cada vez maiores e cada vez mais “despudoradas”.
E pelas mãos e pela pluma de Balzac, pelas lentes do ótimo diretor Xavier Giannoli, a gente vê que os nossos problemas são tão antigos quanto a história mesmo.
O texto de Balzac é das coisas mais geniais de todas, o tipo de coisa que faz falta no cinema e na vida.
E ver esse texto bem dirigido, com uma direção de arte lindíssima, dito por um elenco de cair o queixo, é um privilégio, principalmente pelos jovens Benjamin Voisin, que faz Lucien de Rubempré, premiado com o César de melhor promessa; meu preferido Vincent Lacoste, premiado com o César de melhor coadjuvante e Salomé Dewaeles, que brilha como Coralie, a atriz que à época ainda era mal vista pela sociedade.
(mas essa história fica pra outra resenha)
NOTA: