Infelizmente não achei título em português pra Happening/L’Évenement mas apesar disso, parece que estreia em abril por aqui o vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza de 2021.
O Acontecimento, vou chamar assim, é um filme francês já obrigatório, daqueles quase perfeitos, com um elenco absurdo de bom, um roteiro surpreendente e com a direção precisa da sempre ótima Audrey Diwan.
O filme conta a história de Anne (a surpresa que é Anamaria Vartolomei, provavelmente a triz jovem mais impressionante e potente que vi nos filmes nos últimos anos), uma brilhante estudante de literatura que apesar de toda “nerdice”, gosta de se divertir, de dar uns beijos e dançar muito.
Lá em 1963, quando a história acontece, as coisas não eram tão simples como hoje, mas Anne é a típica jovem que se dá bem com a família mas mora no campus, se dá bem com algumas amigas e incomoda uma maioria exatamente por seu “espírito livre” e mais ainda, deixa seus professores animados com seu conhecimento e dedicação aos estudos.
Só que um “acontecimento” bem inesperado muda tudo para Anne: ela descobre que está grávida, poucas semanas antes de seu exame final.
Para não acabar com o seu futuro, com seus sonhos de se tornar uma escritora, Anne resolve tomar providências drásticas, já que naquela época o aborto não só era proibido na França como mandava para cadeia o médico que o fizesse e a mulher grávida também.
Anne tenta ser ajudada por todo mundo, o seu médico de família que a conhece desde criança, que nega realizar o procedimento de todas as formas.
Suas amigas, que apesar de se sentirem tocadas pelo fato, não podem ajudar.
O cara com quem Anne transou uma só vez, por acaso.
E até sofre com as “investidas” de um amigo que diz que eles podem transar, já que ela está grávida mesmo.
No filme, o acontecimento acaba tomando proporções drásticas, interferindo não só na vida de Anne como na de (quase) todos à sua volta.
E a diretora Diwan faz questão de nos jogar na cara que nada é fácil nunca pra ninguém, ainda mais para uma adolescente grávida no início da década de 1960, antes da explosão do amor livre, na França rural.
Mesmo com sua personagem potente, forte, até meio deslocada em sua época, o filme gira muito em torno das relações de Anne e das consequências que ela sofre em detrimento de cada uma dessas “ajudas” que ela mal recebe das pessoas.
Anne tenta o quanto tempo e aos mesmo tempo vai armando planos paralelos para que se o principal não der certo ela ter ainda a possibilidade de conseguir o que quer.
Em uma das cenas mais legais do filme, um professor que sempre apostou na carreira de Anne pergunta se ela está doente, o que está acontecendo com ela, porque suas notas e seus trabalhos estão muito ruins, ao que ela responde “eu estou com a única doença que pode acabar com o futuro de uma mulher, que pode me deixar cuidando de casa o resto da minha vida”.
Isso mostra muito o quanto o livro em que é baseado o filme, é uma arma potente na história do poder feminino, assim como esse filme lindo, forte e muito sofrido.
NOTA: