Jacques Audiard, o diretor de Paris, 13, é um dos mais interessantes e competentes realizadores franceses em atividade.
Dos mais recentes filmes dele, todos são meus preferidos, do grande Um Profeta, a Dheepan, passando por Ferrugem e Osso, Audiard vai fundo na alma de seus personagens e o mais legal, personagens esses que são bem pop, bem bacanas, nada de super heróis, de gente “genial”.
Em Paris, 13, para melhorar ainda mais, ele se juntou à maravilhosa Céline Sciamma (de Retrato de Uma Jovem em Chamas e Pequena Mamãe, dois já clássicos do novo cinema francês) e juntos escreveram o roteiro deste filminho que em mãos erradas seriam só um capítulo meia boca de uma série metida a moderninha e engraçadinha de um canal de streaming.
Mas Paris, 13 é muito mais que isso, contando as histórias de 3 personagens totalmente únicos e com personalidades maiores que a vida, que de tão grandes acabam se cruzando das formas mais aleatórias possíveis.
Camille, que é um cara (Makita Samba, ótimo) um professor que procura um apartamento para dividir surpreende Émilie (a maravilhosa Lucie Zhang): ela acha que é uma garota que vai visitar sua casa mas acaba gostando do Camille a ponto de começar a dividir não só seu apartamento com ele mas também seu coração.
O problema é que Camille não quer dividir seu coração, só seu corpo, mas Émilie não segura bem a onda, dá uma piradinha e complica tudo.
Logo entra na história Nora (a outra maravilhosa Noémie Merlant) que tá toda enrolada sendo confundida com uma trabalhadora do sexo virtual, a Amber (a terceira maravilhosa do filme, Jenny Beth, sim, a vocalista do Savages) e acaba tendo um tipo de um relacionamento virtual/doido com ela.
As histórias dessas pessoas, baseadas na obra de Adrian Tomine, é de uma leveza que só chega aos pés de sua profundidade.
Paris, 13 já virou uma referência pra mim não só em relação a criação de personagem mas também como roteiristas competentes e principalmente inteligentes conseguem sair da mesmice, do esperado, do óbvio e criar histórias que não ficam só na superfície, que não nos entregue só o que queremos, mas nos entregue o que não queremos, não esperamos.
Paris, 13 é um filme com cara de sessão da tarde mas que no final das contas é um filmaço nível estreia em Cannes, cheio de indicação ao Cesar e com o melhor trio feminino do ano.
NOTA: