Três Andares é o novo filme do grande diretor italiano Nanni Moretti, que com o tempo deixou de ser SÓ um diretor que apontava o dedo para nossas caras a cada filme e passou a ser um cara que ainda faz isso, mas cada vez com mais classe e sabedoria.
Moretti é um dos diretores mais politizados em ação no cinema italiano, um cara que faz filmes combativos “descarados” e também faz filmes como este, que mais são um estudo sobre a sociedade italiana e suas idiosincrazias.
O que não deixa de ser um cinema politizado e muito sociológico, mas sem perder a ideia de ter um roteiro muito bem escrito e principalmente um elenco excepcional, muito bem dirigido, criando personagens que sempre me deixam de cara.
O filme conta histórias de famílias bem atípicas (ou não) que vivem em um predinho de 3 andares em Roma, vizinhos de muito tempo que vão criando intimidades que por vezes podem ser bem perigosas.
Como um casal que tem sua vida bem atribulada e deixa sua filha pequena com o casal de velhinhos que moram no apartamento do andar de baixo quando precisam; ou o filho irresponsável já adulto de um casal de juízes que atrapalha a vida de todo mundo, não só dos seus pais; ou a mulher que vai dar à luz sozinha porque seu marido trabalha em outra cidade e não pode estar com ela neste momento.
O filme explica um pouco a teoria do caos, aquela que diz que o bater de asas de uma borboleta na China faz mudar o curso do dia em uma cidade no interior do Brasil, do outro lado do planeta.
Em Três Andares, a grávida esperando o taxi na rua desesperada porque sua bolsa rompeu e sua bolsa caiu no chão faz com que um carro que desvia dela atropele outra pessoa e bata na parede do apartamento do térreo do prédio.
E daí toda a confusão dramática, bem dramática mesmo, acontece em 3 tempos com 5 anos de diferença.
Uma suspeita de abuso, um suposto estupro, uma traição, uma surra, uma vida dupla, o abandono, a depressão, tudo é gatilho para que as histórias contadas por Moretti se desenrolem, se distanciem e ao mesmo tempo se embaralhem neste predinho de personagens tão peculiares.
Três Andares não é uma obra prima, como são alguns de seus filmes mais antigos como o grande Caro Diário, O Quarto do Filho e Minha Mãe, filmes onde Moretti sempre mostrou a que veio e sempre nos bateu na cara algumas vezes com luvas de pelica, outras não.
Mas um filme apenas bom de Nanni Moretti é melhor do que 90% dos filmes bons realizados e lançados a toque de caixa nesta era das plataformas de streaming.
NOTA: