Juro que nem em meus mais doidos sonhos imaginei que escreveria um dia que um filme dirigido pelo Steven Spielberg, uma refilmagem, ainda por cima, seria meu filme preferido para os Oscars.
Pra começar eu não entendo o porquê desse filme ser (re)feito, já que o original é um clássico de Hollywood, um dos filmes intocados, que todo mundo ama.
Por essas e outras eu deixei o filme passar no cinema e pensei comigo “um dia vejo por aí”.
O dia chegou e eu fiquei chocado: Amor Sublime Amor é lindo demais.
Eu sou um baba ovo de produções que se inspiram em Romeu e Julieta e esta versão mostrando os porto riquenhos mostrando a que vieram quando se tornaram uma população “relevante” nos EUA lá no pós guerra, sempre foi incrível.
E Spielberg, olha só, conseguiu não estragar com a ideia original, muito pelo fato de focar seu filme na mesma época, principalmente pelo fato de 70 anos depois, a luta do povo latino nos EUA continua maior e mais forte que nunca.
Só que Spielberg fez umas coisas que eu não esperava em sua versão.
Primeiro que é claro que o filme é quase uma fábula, uma historinha de ninar.
Amor Sublime Amor tem cara, de propósito, que foi feito em estúdio, com cenários impecáveis dos interiores das casas, dos apartamentos e das lojas assim como das ruas, dos prédios, dos salões.
Nada parece de verdade, o que transforma Amor Sublime Amor em uma experiência ultra realista.
E ao fazer isso, Spielberg eleva a história a um nível que ele poderia fazer o que quisesse com ela.
E faz. E faz muito bem feito, claro, já que há anos ele já nos mostrou que é um dos diretores mais competentes que já apareceram em Hollywood.
E se ele por vezes perde a mão na criatividade de seus roteiros e por consequência, dos seus filmes, se tem uma coisa que não conseguimos criticar é sua competência.
A fotografia de Amor Sublime Amor, culpa do genial mestre dos mestres, o fotógrafo fetiche de Spielberg, Janusz Kaminski é não só uma aula de luz, mas também várias outras, como por exemplo de como focar nos atores, nos personagens, de como usar cor e de como usar os cenários a seu favor, de como mostrar o que interessa, de como usar o contra luz a seu favor e não contra, de como usar os brilhos, os reflexos (que são vários), tudo não como maneirismos bobos, mas como se o roteiro pedisse suas luzes, como se o roteirista Tony Kushner tivesse deixado várias brechas para deixar a luz entrar.
Mais ainda: a forma como Kaminski filma as sequências de dança e de luta é de chorar porque nos transporta para o meio da ação.
Cada rodada de saia de Ariana DeBose era um arrepio que saía do meu coro cabeludo e ia para a sola dos meus pés.
Ariana, aliás, que deve vencer o Oscar de atriz coadjuvante e mais todos os prêmios que aparecerem pela sua frente. Que mulher! Que atriz. Ela rouba todas as cenas em que aparece no filme e eu sentia falta dela em todas as outras.
A história de rivalidade mortal é mostrada e contada lindamente com um ritmo perfeito, com uma cara nova dada a sons tão íntimos que não só vimos muito no filme mas também como essas canções entraram no repertório popular desde que lançadas décadas atrás.
O ritmo da dança é o mesmo da luta e vice versa.
E eu juro, de novo, que achava que Spielberg fosse pegar leve com esse elemento importante da história original.
A maneira como o baile é filmado só é mais linda que a maneira que a batalha final é filmada, com muita sombra e muita luz, o que não necessariamente seria possível, mas nada é proibido se você tem o polonês Kaminski arrumando os seus refletores.
A única coisa que quero agora é ver o filme na telona e torcer com todas as forças para a consagração máxima da minha nova diva, a absurda Ariana DeBose recebendo lindamente seu Oscar.
NOTA: 1/2