Manuel Arija, diretor da grata surpresa do Slamdance, Ultrainocencia, deve ser fã de carteirinha de Delicatessen, a obra pop surreal noventista de Jeunet e Caro.
Mas não se deixe enganar.
Ultrainocencia é o extremo oposto em termos de direção de arte do clássico supra barroco francês.
Ao invés de ir no óbvio e encher seu filme de coisas e cores e objetos e personagens e hipérboles, a comédia de ficção científica espanhola é quase um filme minimalista.
Na forma e no conteúdo.
Acontece que Arija escreveu um roteiro denso, quase caótico, que foi usado (eu acredito) nos mínimos detalhes para a edição e montagem de Ultrainocencia.
O filme conta a história de uma organização religiosa que inventa um experimento científico para provar a existência de Deus.
Para isso, primeiro eles criam meio que um painel de jurados, comandado por um Sergi Lopez insano falando espanhol, catalão, francês, português e o que mais ele puder.
Sob seu comando, a partir do figurino dos jurados, parece que existem representantes de várias vertentes religiosas que agem como se estivessem julgando um show de calouros.
Essas pessoas acabam escolhendo uma dupla bizarra, Orión e Adán, que parecem que nasceram grudados de tão em sintonia que agem em sua obsessão por sinais.
Eles criaram formas de receber esses sinais e de interpretá-los.
E é isso que os religiosos querem, provas metafísicas.
Os dois são confinados em uma espécie de cápsula hermeticamente protegida onde realizam seus “rituais” de contatos e onde esperam falar com Deus.
Ou sabe-se lá o que vão encontrar.
Mas claro, que do nada, surge um probleminha: Orión descobre que seu parceiro Adán está escondendo um segredo.
Poderoso.
E nada mais será o mesmo.
Ultrainocencia é insano.
Engraçadíssimo, com pitadas sérias e profundas para estragar com nossos pequenos cérebros da melhor forma possível.
Se você gosta de uma comédia fora da caixinha, com os 2 pés e as 2 mãos e o cérebro e todo o resto do corpo no surrealismo, você vai adorar Ultrainocencia.
Folgo em prever que Manuel Arija sairá do Slamdance com elogios rasgados, a começar aqui, por sua direção que beira a perfeição.
O filme ainda não foi vendido, mas estamos aqui neste blog já torcendo para que isso aconteça logo.
NOTA: 1/2