Eu tô muito impressionado com a seleção de filmes que concorreram a uma vaga ao Oscar de melhor filme internacional.
A grande maioria é de filmes incríveis, como esse filme do Butão.
Pois é, Butão, onde, como aprendi aqui, fica a escola mais afastada do mundo, em um vilarejo de 56 pessoas chamado Lunana.
E pra lá é mandado Ugyen, um professor que mora na capital mas que não tem mais paciência de lidar com seus alunos que não estão nem aí pra ele e porque o que ele quer de verdade é se mudar pra Austrália e virar cantor.
Mas para conseguir seu visto, ele precisa continuar trabalhando para o governo, para o rei, como ele diz, e pra Lunana ele é enviado, mesmo a contra gosto.
Para a gente ter ideia da lonjura, Ugyen viajar por alguns dias de trem e encontra 2 habitantes de Lunana que foram buscar provisões na cidade mais próxima, que fica há 6 dias de caminhada pelas montanhas.
E por provisões eles foram buscar por exemplo papel higiênico, que é um luxo de quem mora em cidade grande, já que em Lunana eles se viram com folhas de árvores mesmo.
Ao chegar na cidade, o choque de Ugyen é maior ainda do que esperava, já que ele está literalmente no meio do nada, sem energia, sem água encanada, sem luxo algum mas aos poucos ele vai aprendendo a amar aquelas pessoas que lá vivem e que realmente dão valor ao trabalho do professor.
Principalmente as crianças, seus alunos, bando de molecada mais fofa, com roupas coloridas, olhos enormes em busca de aprendizado.
E seus pais e os mais velhos admiram muito Ugyen por trazer seu conhecimento, sua sabedoria, porque para eles o professor é alguém que pode mudar de verdade as vidas das pessoas.
O filme, extremamente bem escrito e dirigido por Pawo Choyning Dorji mostra não só como a rato da cidade se redescobre no interior, tema muito recorrente nos dias de hoje.
Mas a coisa mais linda é que Lunana nos joga na cara, de maneira poética, quase lírica, que a sabedoria milenar, aquela passada de geração em geração, é tão importante quanto a que se aprende na escola, senão mais importante.
O professor é alguém que toca o futuro, como dizem em Lunana.
O iaque na sala de aula do título é mesmo um iaque, um boi peludo gigante, que Ugyen ganha de presente e dele precisa cuidar. Como lá é muito frio, o iaque não pode ficar ao relento, então ele divide a sala de aula com as crianças, bem civilizadamente.
Em um momento do filme, o “prefeito” de Lunana diz ao jovem professor que ele se deu tão bem no vilarejo que com certeza ele já teve uma vida por lá, ao que ouve Ugyen dizer que ele também sentiu isso, que ele deve ter sido um cuidador de iaques em outra vida.
E o sábio diz que não, que provavelmente ele foi um iaque, que é o animal mais importante para quem mora nas montanhas, porque dele eles aproveitam tudo, até o cocô do iaque que serve para acender o fogo que faz a comida e aquece suas casas.
Eu sou apaixonado pela cinematografia periférica, como sempre falo por aqui, principalmente a vida do extremo oriente e esse filme do Butão, com todas as suas particularidades e bonitezas, é mais um filme da minha lista dos preferidos.
NOTA: 1/2