Pode anotar e me cobrar depois: Flee será o vencedor do Oscar de melhor documentário em 2022.
O filme é um documentário feito em animação com certeza para proteger as identidades dos envolvidos e conta a história de um famoso intelectual na Dinamarca que para lá imigrou quando era adolescente fugindo dos mujahideen do Talibã.
À medida que Amin vai contando sua história, ele vai se lembrando de passagens que há tempos ele não citava e de repente um segredo é revelado.
Não que esse segredo tenha algum momento de reviravolta do roteiro ou algo parecido, mas o filme inteiro é construído a partir da possibilidade dessa história do passado, há muito escondida, vir à tona.
Quanto mais Flee ia passando na tela, mais eu ficava chocado com a potência que o diretor Jonas Poher Rasmussen construía seu filme de formas mais íntimas e em muitas vezes desestabilizadoras para seu personagem principal.
Sendo seu personagem um desenho animado, a coisa fica mais estranha ainda, em se tratando de um documentário.
O tempo passa e eu não me acostumo com filmes sobre imigrantes e suas lutas em novos lugares, novas Pátrias (que não são) e principalmente sobre a relação dessas pessoas com suas próprias Pátrias, seus países de origem, que de lá tiveram que sair quase sempre às pressas, de vez em quando expulsos e o quanto isso é fator principal em suas vidas futuras.
Flee mostra o quanto a violência de uma guerra ocorre de diferentes maneiras para pessoas de uma mesma família. O quanto o sofrimento dessas pessoas é absolutamente causa de efeitos de resoluções de uns poucos homens que daria inclusive para culpar nominalmente cada um deles por cada desgraça nas vidas desses expatriados.
Não pense que um desenho animado vá tirar a humanidade de uma história como essas.
A inventividade de Flee é única e a arte de criar personagens animados seja a cereja desse bolo que na verdade é um manjar dos deuses.
Rasmussen pega nosso coração nas mãos, acaricia mas de vez em quando vai apertando e sugando uns tantos de sangue sofrido, mas tudo na medida certa para nos fazer entrar na pele de Amin, uma pele “desenhada”, mas provavelmente uma das mais vivas do cinema de 2021.
NOTA: