Se você, como eu, amou Quo Vadis, Aida, o brilhante, maravilhoso e icônico filme sobre um massacre na Sérvia, vai amar Hive.
O drama da diretora Blerta Basholli conta também a história de um pós massacre, só que em Kosovo, país vizinho à Sérvia, numa das regiões com maiores conflitos étnicos/religiosos do nosso planeta.
Hive, colmeia, conta a história de Fahrije, seus filhos, seu sogro, suas amigas e de toda sua cidadezinha “sem homens”, já que todos os que tinham algum poder e força de trabalho, ou de revolta, foram sequestrados e mortos.
Todos.
E os que restaram na vila, os velhos ignorantes, preconceituosos, não admitem que as mulheres trabalhem, porque isso envergonharia seus maridos.
Que apesar de não mais estarem lá, todos acham que estejam vivos em algum lugar enquanto não são encontrados mortos.
Isso vale para Farhrije e suas amigas, que sempre esperam notícias esperançosas enquanto mal sobrevivem.
Ela e seu sogro vendem mel que eles produzem em seu modesto apiário, com poucas colmeias. E esse dinheiro já não é mais suficiente para sua sobrevivência.
Ela tem uma ideia, em uma reunião com as mulheres da cidade, de produzirem uma iguaria típica da região para venderem nos mercados das redondezas.
Mas para isso elas precisam o quê? Trabalharem. E Fahrije aprende a dirigir um carro, que ela compra com uma vaquinha que elas fazem.
MAs lembra que eu falei ali que os velhos não admitiam nada disso? Pois é, em pleno 2021 os caras jogavam pedras, eram violentos e disseram que só não eram piores “porque elas eram mulheres”.
Mas como em uma colmeia, Fahrije e suas amigas juntas por um propósito, conseguem atravessar todos os poréns que aparecem em seu caminho para uma vida pelo menos digna.
As decisões estéticas e principalmente técnicas da diretora estreante Blerta Basholli fazem com que Hives seja um filme extremamente convidativo e emocionante.
Fahrije é vivida pela atriz Yllka Gashi que num mundo ideal estaria recebendo indicações como melhor atriz nas principais premiações do ano, já que ela sofre praticamente calada e tira forças não sabemos de onde para fazer sua colmeia funcionar.
Eu gosto muito de filme onde a metáfora é óbvia, onde o público não precisa necessariamente ficar o filme todo procurando a pegadinha da história. Hitchcock disse que quando as pessoas só prestavam atenção em seus filmes depois de encontrá-lo em alguma cena, ele passou a aparecer sempre nos 3 primeiros minutos do filme, para satisfazer a audiência e, claro, seu ego.
Hive é assim, tudo é claro, sem firula mas com uma profundidade e uma riqueza de detalhes impressionantes.
NOTA: 1/2