Má Sorte No Sexo Ou Pornô Acidental é um dos títulos mais brilhantes da história do cinema.
Neste filme absurdo do diretor romeno Radu Jude, vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim de 2021, Emi, professora de história de uma escola bem tradicional e religiosa e rica de Bucareste, vê sua vida virar de ponta cabeça, principalmente a profissional, quando um vídeo seu em uma transa bem bizarrinha (a má sorte no sexo) com seu companheiro é descoberto por seus alunos adolescentes (o pornô acidental) em um site pornô adulto onde o casal procura outros para swing.
Ela leva uma reprimenda brava de sua diretora mas com ela combina que a explicação que vai dar aos pais de alunos é que o celular do seu companheiro foi roubado e o vídeo vazado sem permissão.
Mas o povo não tá nem aí.
Em uma reunião na escola com a turma mais estúpida de pais de alunos possível, Emi tem que explicar que o que ela faz entre 4 paredes é problema só dela e de quem com ela participa.
E que se os adolescentes frequentam sites pornográficos para maiores de idade, o problema é dos pais.
Mas a gente de bem que paga caro para uma educação tradicional não pensa assim.
Para os militares, os religiosos, os caretas, a professora não pode se expor dessa forma, que isso vai acabar com a criançada.
O roteiro de Jude poderia ter sido filmado no Brasil que o resultado teria sido o mesmo.
Inclusive, eu amo filmes romenos para ouvir a língua e tentar ler o menos de legenda possível, de tão próximas que são nossas línguas, além de nossa sociedade hipócrita ser também muito parecida.
Emi é a prova de que alguém com um pensamento um pouco mais fora da curva sofre com a repressão tradicional de uma sociedade hipócrita e careta.
(Sei que estou repetindo os adjetivos mas são esses mesmos)
O filme é dividido em 3 partes bem distintas que vão nos preparando para a porrada final, com um prólogo bem animado, da gravação da transa em si, com muito close nos genitais do casal envolvido e também com uma importância cênica grande à penetração em si.
Na primeira parte, Emi está na rua resolvendo probleminhas do dia a dia e pelo celular tenta resolver com seu companheiro como tirar o vídeo do canal que ele postou, já que a escola entrou em contato com ela e marcou reunião para resolverem o problema.
Emi vai perdendo a paciência à medida que as coisas não se resolvem e Jadu vai nos mostrando que no nosso dia a dia, as pessoas que cruzam nosso caminho não cooperam, como por exemplo o cara que para sua caminhonete gigante na calçada fazendo com que Emi tenha que andar por uma avenida movimentada, arriscando ser atropelada, enquanto o podre (de) rico está dentro do carro sem fazer nada e sem cooperar.
Na segunda parte, o diretor Jadu nos presenteia com mini esquetes, ou mini cartões postais filmados, ou sei lá como chamá-los, mas são problemas de todos os dias resolvidos (ou não) em uma cena rápida.
O objetivo? Nos deixar mais nervosos ainda e menos tolerantes com as baboseiras que caem nos nossos colos e nas nossas frentes.
Brilhante!
Só essa segunda parte daria um longa maravilhoso, como se Jadu fosse o gêmeo univitelino do mal do sueco Sobre a Eternidade, do Roy Andersson.
E o filme chega à terceira parte com a reunião da professora Emi com os pais de seus alunos, em um jardim lindo dentro da tal escola católica tradicional que ela dá aulas, onde ela se senta sob uma estátua bem grande de um santo que está sendo limpa por uma faxineira alheia à importância da discussão ou na verdade mostrando que ela (e quem interessa) está pouco se lixando pra esse papo furado.
Mas o discussão é acalorada e aos poucos vai entrando em uma violência inacreditável onde Emi é chamada de puta pra baixo.
E precisa se segurar pra não pular no pescoço de umas pessoas.
Fazia um tempo que eu não torcia por sangue em um filme como torci por esse, mas Emi é muito mais civilizado que eu, pra sorte da personagem e pra falta de sorte da minha sede violento contra ricos hipócritas.
Radu Jude é um dos grandes nome do ano, com uma mão precisa na direção dessa comédia de erros, ou desse dramalhão equivocado ou desse quase terror.
Eu estou sofrendo esse ano para chegar a uma conclusão sobre qual o melhor filme de 2021 mas já digo que Má Sorte No Sexo Ou Pornô Acidental é top 3.
Tá, top 2.
Que filme, minha pova, que filme, meu povo.
NOTA: