Mães Paralelas é o novo filme do Pedro Almodóvar e se você ainda não sabia disso, saia debaixo da pedra onde você estava vivendo.
Isto posto, tenho a dizer que faz tempo, muito tempo, que o Almodóvar já virou hors concours, o gênio do cinema que o povo nem chama mais pra concorrer em festival senão ele ganha tudo e não tem pra mais ninguém.
Quer dizer, nível Almodóvar tem mais uma meia dúzia em ação e só.
Mães Paralelas é o Almodóvar em sua plenitude, nos entregando o que esperamos dele em todos os sentidos e mesmo assim, nos surpreendendo como sempre, só que como nunca.
Mais uma vez eu fiquei de boca aberta, de queixo caído, deitado na BR pra esse filme.
O dramalhão, a novelona espanhola da vez conta a história de Janis (Penélope Cruz, rainha das telas, merecedora de todos os prêmios da via Láctea), uma fotógrafa de sucesso que perto dos 40 anos de idade engravida por acaso e resolve ter o bebê.
E ela fica no mesmo quarto de maternidade que Ana (Milena Smit), uma menina de 17 anos de idade que também engravida por acaso e que também resolver ter o bebê que nasce ao mesmo tempo que a filha de Janis.
Depois de uns meses, o pai da filha de Janis, casado, mora longe, resolve ver a filha e na hora diz que não reconhece a bebê como sua, por ser fisicamente muito diferente dele.
E da própria Janis, que fica encucada, faz um teste de DNA e descobre que a bebê não é realmente sua filha.
Ao invés de fazer um escândalo, Janis resolve quase desaparecer: não conta pra ninguém e troca o número de seu celular (assim que se desaparece nos dias de hoje).
E o que acontece daí pra frente é uma trama folhetinesca escrita por um dos maiores criadores vivos deste planetinha azul.
Com a maior atenção a detalhes, sem se preocupar com limpeza hollywoodiana transformando tudo em uma fotograma publicitário, Almodóvar nos joga na cara mais uma coleção de mulheres maravilhosas em uma obra cheia de mulheres maravilhosas.
Além de Penélope e Milena, ainda temos Aitána Sanchez, Rossy de Palma, a diva Daniela Santiago e Julieta Serrano numa participação de emocionar.
As cores, a fotografia, a trilha do colaborador de sempre Alberto Iglesias fazem do filme um grito de perfeição em um mar de tentativas frustradas.
Mães Paralelas é o filme do Almodóvar que a gente já assistiu umas 15 vezes antes só que cada vez mais burilado, mais bem acabado, mais aperfeiçoado, mais melodramático e desta vez, mais político que nunca.
Mães Paralelas deveria passar na noite de Natal pra todo mundo assistir depois da comilança como um último chacoalhão do ano.
Toda noite eu dou uma rezadinha pra mãe natureza continuar abençoando uma galera: minha família, meus amigos, um povo zuado que precisa de atenção mas peço também pra que ela proteja uns gênios vivos como o Almodóvar e mais uma meia dúzia que me dão felicidade quando entregam alguma obra nova.
Se hoje me perguntassem se eu sou feliz eu diria que sim, só porque eu assisti Mães Paralelas 2 dias atrás.
NOTA: