A Noite Passada em Soho é o novo filme do inglês Edgar Wright, o cara que começou a carreira bem demais fazendo o maravilhoso Shaun of the Dead (com o título ótimo em português Todo Mundo Quase Morto), a melhor comédia de zumbis da história, com o povo matando zumbi com disco de vili, clássico.
Ele dirigiu também Scott Pilgrim Contra o Mundo, com uma vibe meio game, meio clipe, que funcionou super bem para transpor a HQ maravilhosa para as telonas.
Daí ele começou crescer, fez um Homem Formiga (claro que eu não gosto) e fez Em Ritmo de Fuga, o videoclipe mais longo da história, com uma trilha ótima em um filme bem meia boca.
Daí ele fez o documentário sobre a pior banda da new wave que tentaram desenterrar em 2021, The Sparks Brothers, meia boca como a banda, mais pitoresco que qualquer outra coisa e no mesmo ano, 2021, ele lança seu filme de terror, A Noite Passada em Soho.
O problema do filme maior de todos, porque ele tem vários problemas, é que o cara quis fazer um giallo, um terror italiano, transposto pra Londres dos dias de hoje com delírios sessentistas, cores setentistas, personagens ótimas em um roteiro que parece que foi escrito depois que ele teve a ideia de quais músicas usar na trilha, quase todas as versões originais de sucessos alcançados em covers décadas depois de lançadas.
O que é bacana, como no filme anterior.
Aliás, também como no filme anterior, a protagonista desse usa mais fone de ouvido do que precisaria na história, só dizendo.
O filme conta a história de Eloise (a ótima Thomasin McKenzie, de Jojo Rabit), uma garota do interior que vai para Londres estudar moda.
Tímida, por ter que lidar com o bullying imediato das novas colegas, ela deixa a residência universitária e vai morar em um quarto que aluga na casa de uma senhora boazinha.
Só que nesse quarto, ela começa a ter sonhos bem vívidos de viver na Londres dos anos 1960 e que ela está vivendo no corpo de Sandie (Anya Taylor-Joy, que deixa a desejar na personagem voluptuosa), uma aspirante a cantora que precisa passar por várias provações para chegar onde quer, inclusive namorar um gigolô (o exagerado/caricato Matt Smith) e fazer o que ele manda que ela faça.
A Noite Passada em Soho demora pra acontecer e esse é o grande problema do filme.
Edgar Wright enrola muito antes do terror em si.
O bom do filme é afinal o terror e ele acaba se enrolando muito em referências que ele faz questão de usar no filme, com certeza como “homenagens”aos filmes originais que vão dos italianos a Halloween.
E essas homenagens acabam não ajudando em nada o filme, só servem pra mostrar que ele é cinéfilo, que ele gosta de horror. Besta ele.
Ele fica vendido à primeira ideia das músicas servirem de inspiração para Elie e a gente entende isso em 2 cenas rápidas. Só que o diretor fica nisso de trilha em toda a primeira hora do filme, que tem exatas 2h de duração, em pleno final de 2021.
O filme poderia ser um genial musical de horror, sobre uma viagem onírica delirante de uma menina com histórico de problemas neurológicos na família que “se perde” na cidade grande.
Mas não é, é só um exercício estilístico de um diretor que quer aparecer mais que sua obra.
Uma pena.
Não tem infinidade de espelhos, reflexos, atropelamentos de taxi que compensem o monte de bobagem do filme.
Só pra terminar: cadê a bruxa do filme? O que é o fim patético daquele monte de homem falando com a menina?
O Edgar Wright vê muito filme mas talvez tenha visto muito filme errado.
NOTA: 1/2