Paul Verhoeven filma como se ainda estivesse na década de 1990.
E isso não é um elogio.
Benedetta é mais um filme meia boca que o diretor das porcarias atuais cometeu.
Aliás, desde Instinto Selvagem, lá de 1992, o holandês não faz nenhum filme bom.
E não me venha falar que Elle é o máximo porque não é.
Pensa nele, agora de longe, depois de todo o hype do lançamento: um suspense sexual (óbvio) que só é um pouco interessante por causa da estrela Isabelle Huppert. E mesmo assim a diva tá no automático, fez tudo o que já fez em um monte de outros filmes anteriores e nada mais. Nada que chegue aos pés de Mama Weed, por exemplo.
Mas voltemos ao Verhoeven, que é por ele que estamos aqui.
Em Benedetta ele quer ser de novo o transgressor sexual fetichista do cinema, desta vez contando a história de uma freira lésbica delirante na Itália de séculos passados, durante uma peste, ainda por cima.
Só que pra isso a gente vê muita mulher pelada. Mas veja bem, só as lindas e gostosas, porque é o Verhoeven, né, o maior misógino cara de pau.
Verhoeven filma como quando foi pra Hollywood e entrou num automático vergonhoso já que o que ele fez antes na Holanda, os ótimos Louca Paixão, Agente Laranja, O Quarto Homem e o grande Conquista Sangrenta eram grandes filmes que o levaram ao cinema milionário americano.
Depois de encher o rab, ops, o bolso de dinheiro com Robocop e Vingador do Futuro, ficou poderosão, voltou pra pegada sexual e fez a Sharon Stone cruzar as pernas sem calcinha, sucesso em Cannes, lá estava eu no lançamento, inclusive.
Depois cometeu Showgirls, o lixo que a gente odeia amar.
Benedetta mostra o quanto Verhoeven quis misturar o filme entre muros de seu início, de idade média, de sexo pesado, com a fetichização que ele usou e abusou na América.
Benedetta, vivida pela ótima Virginie Efira, é uma freira que no século XVI, como diz o marketing do filme, tem um caso lésbico com uma freira novata.
Esse é o Verhoeven, levar tudo pro sexual.
E não é ruim não, porque afinal de contas ele não esconde nada disso, a parada é assumida.
O que me irrita é que o filme poderia ser bom pra caramba já que ser lésbica é só um dos “problemas” da freira linda e gostosa, claro, Benedetta.
Ela é uma doidona, das melhores personagens delirantes dos últimos anos, que assume e acredita e faz com que todo mundo em sua volta acredite também que ela é a esposa de Jesus, a escolhida, com quem ele conversa e de quem ela recebe recados.
Inclusive ela tem até os estigmas de Cristo, as feridas nas mãos, nos pés, na costela e na cabeça da coroa de espinhos.
Benedetta é esperta demais, faz tudo exatamente como deveria ser feito.
Mas o que o holandês insiste em nos mostrar é ela transando.
Com esse texto parece que eu não gosto de filme cheio de sexo: eu AMO!
Mas Benedetta parece um filme velho, com sexo velho, cafona. Quando rola uma possibilidade de as coisas ficarem realmente sexuais e interessantes, o diretor não mostra. Bem estranho.
É isso, o velho e bom Verhoeven que ainda é cafona, como vimos em grande parte de seus filmes.
Benedetta é cafona assumido, sem vergonha.
Mas não é ruim. Só não é maravilhoso.
E olha que tem a Charlotte Rampling de madre superiora lesbiana ciumenta e brava.
NOTA: 1/2