O Joelho de Ahed é o novo filme de Nadav Lapid, o ótimo e estranho diretor israelense do ótimo e estranho Sinônimos.
Mais um filme em cartaz na #MostraSP #45Mostra, Ahed’s Knee conta a história de um diretor de seus 40 e poucos anos que vai fazer uma viagem a um vilarejo no meio do nada de Israel para apresentar seu último filme.
Mas Y, o nome do diretor “moderno”, não tira da cabeça a preparação de seu novo filme, baseado em uma história real onde uns jovens israelenses protestam contra atentados contra palestinos e um deles, Ahed, tem seu joelho estraçalhado por policiais do exército israelense.
Ao chegar no vilarejo, Y precisa lidar com o desinteresse das pessoas em assistirem seu filme pra começo de papo.
A pessoa que o levou pra lá convida toda sua família para encher a sala de exibição improvisada na biblioteca da cidade para que seu evento não seja um fracasso total.
Depois Y descobre que para receber o cachê que lhe foi prometido, ele precisa assinar um termo no ministério da Cultura onde ele declara saber das consequências de seu filme ser contrário a filosofia de direita do atual governo e que ele assume toda a responsabilidade por atitudes que possam ser tomadas contra ele mesmo por propagar suas ideias controversas.
Y, no meio do nada, no meio de um deserto árido e desolado (sim, hipérbole mesmo porque o lugar é assim mesmo), Y não consegue necessariamente lidar com tudo isso em 1 dia perdido nesse lugar, sendo que a tal da bibliotecária que o levou até lá se porta como uma víbora ao preparar Y para receber o bote final que é o documento que ele precisa assinar.
Lapid não é o diretor mais caretinha em atividade hoje no mundo, muito pelo contrário.
Ele faz em seus filmes o que quer, indo contra regras básicas de cinema, afinal, regras existem para serem quebradas.
O Joelho de Ahed é quase que um estudo de personagem que veio às telas.
O diretor Y é uma síntese radical da pessoa que tenta fazer arte nesses tempos neo fascistas, em um país fascistóide como Israel (e sim, como o Brasil) onde qualquer deslize pode ser desculpa para uma intervenção vinda não se sabe de onde.
O deserto de possibilidades, a víbora travestida de sedutora, o público a serviço não da arte mas sim do poder enviesado, que além de tudo oferece doces e guloseimas antes de dar o bote (mais víboras), tudo desenhadinho em mais um filme que por mais “diferente” e experimental que possa parecer, está todinho contando sua história como se deve.
NOTA: 1/2