O filme dinamarquês Assim Como No Céu é pra mim um dos grandes que assisti na #MostraSP #45Mostra, com uma das melhores sequência de abertura dos últimos anos onde a protagonista Lise, uma garota de 14 anos lá pelo final dos anos 1800, está com seu vestido branquinho (como veremos no filme, de sempre) no meio de um campo lindo e de repente o céu se avermelha no que parece que vai ser uma chuva de sangue torrencial.
À medida que o filme se desenrola a gente vai cada vez menos entendendo se o torrencial era a chuva ou o sangue, já que ambos são pontos centrais na vida dessa menina prestes a virar mulher, de uma forma ou de outra.
Lise alcançou a idade de ir estudar, de sair da fazenda da família e ir morar na cidade, crescer, aprender.
Mas aos poucos ela descobre que nada é tão fácil, que (desculpem o ridículo) nem sempre querer é poder.
Lise em seus 14 anos soa como uma mulher já adulta mesmo, o que acontecia naqueles anos atrás.
Ao mesmo tempo ela parece criança em várias atitudes, o que faz de sua personagem mais interessante ainda.
Assim Como No Céu é um filme muito feminino, onde os homens só aparecem para atrapalhar a vida e os sonhos de Lise de alguma maneira.
Ela conta com a mãe, a avó, as tias, primas e irmãs num momento delicado dessa sua vida de sonhos, de pé no chão e cabeça no futuro.
E o drama dirigido pela ótima Tea Lindeburg, à medida que vai nos mostrando Lise mais e mais a fundo, vai aos poucos tendo um viés de horror.
Não o de monstros e fantasmas, mas o que eu tanto amo que é o horror da vida real.
Passam as horas, chega chuva, passam mais horas, vem sangue e mais sangue e Lise sem entender o que fazer nem como fazer, perdida como deveria se sentir uma menina de 14 anos, apesar dela já se acreditar adulta, como diz sua irmã mais nova.
A penúltima sequência de Assim Como No Céu é quase tão poderosa como a inicial, mas já com menos surpresa do que aquela que assistimos ainda com nosso cérebro desprovido de informações.
Mas a cena final de Lise com sua avó é daquelas de dilacerar nossos coraçõezinhos esperançosos, de nos colocar no nosso lugar insignificante e de nos lembrar: acorda, Alice.
P.S. – se você quiser uma última referência, Assim Como No Céu poderia ser um filho bastardo de Melancolia, aquele filme que todo mundo ama.
NOTA: 1/2