Pometo pra você que aqui está lendo que o filme alemão Luzifer logo logo vai ganhar status de cult, queridinho da crítica e da audiência por onde passar.
O filme estreou em Locarno meses atrás e eu o assisti no Fantastic Fest onde fui catapultado para um universo maravilhoso.
O filme é um drama de horror, aquele da vida real, baseado inclusive em uma história real de Johhanes (o ícone Franz Rogowski de Undine e Transit), um homem “puro com o coração de criança” que vive no meio do nada com sua mãe Maria (a inacreditável artista plástica alemã Susanne Jensen) no que parece ser um mundo pós apocalíptico.
Eles vivem em uma cabana e sobrevivem do que produzem ali, dá agua da nascente, e da caça que as águias que criam lhes trazem.
Mas essa ideia de mundo perfeito logo cai por terra quando vemos que na verdade o mundo não acabou mas uma empreiteira que acabar com a vida idílica da família, comprando sua propriedade para construir algum condomínio tosco.
Maria e Johhanes vivem em um universo paralelo, rezando para seus deuses aos pés de uma árvore queimada, agradecendo o que colhem e o que comem e principalmente Maria agradecendo por estar limpa e sóbria.
Esse pequeno universo quase onírico que o diretor Peter Brunner cria em Luzifer me lembrou muito o do criado no meu preferido dos últimos anos Monos, o que pensando bem talvez seja o meu pós apocalipse idílico, com pouca gente, no meio da natureza.
Luzifer é cheio de imagens sacras, de um sagrado inocente e primal e essas imagens e esse clima é quebrado pelos carecas neo nazis que vão acabar com a vida da dupla, ou pelo menos tentar.
E o sagrado também é mostrado através da visita da veterinária cuidadora das águias através de sua relação linda com Johannes.
A tensão do filme é constante, não só pelo perigo que eles correm desprotegidos do mundo que continua apesar deles, mas também pelo fato de Maria, uma santa para Johannes, a Mãe com M maiúsculo, uma careca, tatuado, de peito caído e moral acima das nuvens, a imagem mais linda do feminino possível, a mulher que luta para proteger seu filho que apesar de ter o dobro de seu tamanho fisicamente, é uma criança de espírito.
Luzifer é uma das melhores surpresas de 2021, filme lindo, sensível, cruel e violento, tudo ao mesmo tempo, um dos que precisam ser vistos pra encher o cérebro de coisas boas.
NOTA: 1/2