The Card Counter, o novo filme escrito e dirigido pelo mestre Paul Schrader, é o tipo de filme que eu adoro chamar de “filme de gente grande”.
O filme tem um tom sóbrio, quase solene, com uma história contada com um dos roteiros mais lindos do ano, cheio de nuances e detalhes que não nos deixam parar de pensar que Schrader faz o que quer e o que não quer com sua escrita.
O contador de cartas do título é William Tell (ou Guilherme Tell, o arqueiro da maçã na cabeça do filho, lembra, vivido por um Oscar Isaac gigantesco) é um jogador de cartas e truqueiro profissional que ficou quase uma década preso e que acabou de sair de lá.
Livre de novo, ele agora resolve se passar despercebido para não voltar para o inferno, como ele mesmo diz.
Só que a vida nunca funciona como nós planejamos e o senhor Tell entra em um emaranhado de histórias que, apesar de totalmente desconexas, quando encontram um ponto em comum no jogador inveterado e ex militar, tudo explode para todos os lados.
A história do filme é a do cara que vive em móteis, em quartos quase monásticos, perto dos hotéis cassinos onde ele participa desses pequenos torneios e de muitos jogos “discretos”, ganhando quantias consideráveis de dinheiro todos os dias.
Um dia ele é interpelado pelo filho de um dos seus ex companheiros de exército, que se suicidou por ter sido acusado do mesmo crime que Tell. Esse jovem quer se vingar do superior de ambos (numa ponta incrível do Willem Dafoe), um homem frio e canalha, que não aparece mais que 10 minutos no filme e passa como um furacão.
Tell resolve cuidar do jovem (Tye Sheridan, virando um queridinho do indie) se ele prometer que vai desistir da vingança e assim, Tell começa tratar o jovem Cirk como seu protegido.
Logo depois ele encontra por um desses hotéis La Linda (Tiffany Hadish, surpreendente) uma mulher que banca jogadores pelos cassinos em troca dos lucros dos jogos, com quem Tell vai se aproximando mais e mais, depois de um jogo que faz com o jovem Cirk.
Tudo isso, que parece um monte de historinha boba sobre um homem perdido vivendo uma vida de nômade moderno, sem nenhum sentido nos próximos dias de sua existência a não ser estudar como ganhar dinheiro, jogar e tentar ganhar sempre.
Só que um roteiro muito bem criado faz com que isso tudo se transforme em um filme que ao mesmo tempo que se mostra o tal filme de gente grande que disse antes, nos joga na cara que a modinha estúpida de reviravoltas de roteiro, de surpresas estúpidas, de truque tirados das mangas de pseudo mágicos não servem nada além de dar uma enganadinha já que não tem muito a oferecer.
Ao mesmo tempo eu poderia dizer que The Card Counter tem um dos melhores plot twists, uma das melhores reviravoltas de roteiro do ano, já que plot twist é solucionar questões de roteiro de formas inesperadas.
Resumindo, The Card Counter é um filmaço, nada parecido com filmes mostrados nos últimos anos ou melhor, se algum filme pode ser referência é First Reformed, o horror de 2017 do próprio diretor Schrader, outro filme de gente grande que também me deixou de queixo caído sem truque nenhum, a não ser ter um elenco afiadíssimo com um texto perfeito contando uma história que a gente não espera que terminaria como aconteceu.
NOTA: 1/2