Outro dia eu participei de uma discussão muito boa sobre Pray Away, um documentário da Netflix sobre campos de conversão nos EUA onde os pais de adolescentes LGBTs mandam seus filhos para rezarem até virarem héteros “de volta”.
Horror que não chegou aqui, apesar de terem tentado.
Bom, um dos pontos que surgiram na discussão foi o quanto os chamados ex-gays recebem abrigo nas igrejas evangélicas e o quanto se sentem bem vindos depois de provavelmente não se sentirem quistos por seus pares.
E o quanto esse povo é ignorante o suficiente pra acreditar que é só rezar que sua vontade de fazer sexo com alguém “que não pode” vai passar.
Assistindo Jihad Jane vi a mesma coisa.
O documentário conta a histórias de duas mulheres nascidas nos EUA que em 2017 foram presas por participarem de atos terroristas depois de se casarem com o mesmo fulano na Irlanda, um jihadista bem desgraçado.
Ambas, em suas entrevistas, dizem que pela primeira vez em suas vidas tiveram a sensação de “pertencimento” quando falavam com o cara pela internet até que ele as convenceu, sem que uma soubesse da outra, claro, a irem para a Irlanda para serem suas esposas e ajudarem no trabalho sagrado de acabar com os EUA.
Essa foi só a primeira historinha que me deixou de queixo caído no documentário.
Outro absurdo é que mesmo depois delas serem condenadas, presas, passarem anos na cadeia, ainda assim elas querem voltar para o jihadista desgraçado.
Mas a questão aqui é até outra, é o filme.
Esses dois detalhes que eu citei são contados nas entrevistas feitas com as duas fofas, uma conhecida como Jihad Jane e a outra como Jihad Janet.
Suas histórias vem sendo usadas pelo governo daquele país para mostrar o quanto o terrorismo está dentro da casa do povão, o quanto o perigo é o seu vizinho mesmo.
E esse é o mundo que a gente vive.
Não tem mais vilão russo, nem chinês, nem árabe, nem comunista, como os governos fascistas gostam tanto de propagar.
O problema, o vilão, é o cara que faz o que o pastor, ou o jihadista, ou o presidente ignorante, ou o guru astrólogo manda ele fazer.
Jane e Janet viram onde se meteram, foram presas por isso e nem assim largam a mão do jihadista da Irlanda que as engana o tempo todo.
Mas de novo, com ele elas se sentem confortadas, amadas. Enganadas, mal tratadas, mas não trocam aquela vida desgraçada por uma vida de família alcoólatra, de pai que as estuprava na infância, de irmã que roubava o namorado, de vício em crack e assim por diante.
Agora fiquei com vontade de fazer um documentário sobre uma crente bolsonarista pobre que continua apoiando o presidente, apesar de todos os pesares.
A comparação é esta.
Já era.
NOTA: