Hoje, dia 29 de junho, é dia de São Pedro, o cara que tem a chave do céu, o cara que faz chover, dia importante, praticamente o meio do ano e por isso vou falar de filme bom.
Se você lê sempre aqui sabe da minha predileção pelo cinema irlandês dos últimos 2 anos.
Filmes como Calm With Horses e The Last Right são meus preferidos de modo geral nos últimos tempos.
Censor é mais um filme irlandês que entra pra essa lista de preferidos.
Com uma coisa em comum com esses 2 supra citados: os 3 são estrelados pela musa irlandesa, atriz que logo explode por aí e você leu primeiro dela aqui, Niamh Algar.
O tanto que eu já tinha amado Niamh principalmente em Calm With Horses, o filme que tem uma das melhores trilhas do ano passado, não chega aos pés do que a fofa entrega como a censora do título deste filme.
Pra começar já coloco Censor numa “caixinha” de horror moderno, ao lado de Possessor, O Vestido Maldito, Berberian Sound Studio e The Stylist, um horror que rende muitas homenagens ao Giallo mas com roteiros absolutamente contemporâneos, revisando o antigo para os dias de amanhã.
A censora Enid trabalha em algum lugar do passado que parece ser lá pelo final da década de 1970 e início de 1980, ou talvez antes, ou talvez depois, onde ainda existia gente que mandava cortar filmes impróprios.
Sim, jovens, isso existia, censores que não aprovavam filmes, músicas, livros, obras de arte em geral que só poderiam ser apresentadas ao público se re-editadas, sanitizadas.
Enid é uma mulher estranha, solitária, que carrega um grande trauma por se sentir responsável pelo desaparecimento de sua irmã quando elas eram bem jovenzinhas e brincavam em uma floresta.
Um dia assistindo e avaliando um filme de terror extremo, Enid acha que viu sua irmã em uma das atrizes.
E por isso fica obcecada com o produtor, o diretor, começando a pesquisar todos os filmes já feitos por eles atrás de pistas que possam levar ao paradeiro de sua irmã.
Se é que aquela é sua irmã.
Censor, escrito e dirigido pela galesa Prano Bailey-Bond em sua estreia nos longas, é a prova de que pode-se e deve-se pensar o horror além do óbvio de monstros e sustos e fantasmas e espíritos.
Não que eu não goste daquele horror, deus Pinhead sabe o quanto o venero, mas Censor fala mais de um horror da vida real, como eu costumo chamar, o horror onde o seu vizinho é um monstro inominável ou neste caso, um horror que não só está dentro de sua cabeça mas que quando Enid, neste caso, resolve dividir seus medos e suas conclusões com os outros a seu redor, as coisas saem muito do controle.
E o mais legal de tudo é que Censor vem de um tipo de cinema que eu chamo de anti clímax, tipo um disco dos Swans, onde as músicas vão crescendo, prometendo uma virada, prometendo uma entrada de refrão pegajoso e nada.
Censor fica nesse (pseudo) anti clímax por horas (mentira, o filme é curto), prometendo, criando clima, criando tensão, criando a velha e boa atmosfera, nos deixando cada vez mais nervosos pelo roteiro mas também por não recebermos o que a diretora está nos prometendo.
Sabe sexo tântrico, onde você não pode atingir o orgasmo? E você faz esse tipo de experiência por dias e dias e quando atinge finalmente o orgasmo você vai até Júpiter e volta?
Esse é o tipo de sensação que eu tenho com arte anti clímax, que vai nos preparando, preparando, preparando pra de repente a gente receber na cara um resultado com uma força que a gente não estava esperando, apesar de imaginar que não seria normal.
E quando o filme, ou a música, ou o livro são bons, esse orgasmo final nos derruba.
Foi isso que senti com Censor.
NOTA: 1/2
Resenha em 30 segundos ou menos:
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