Se ainda não teve um filme gay maravilhosíssimo de bom em 2021, o romeno Poppy Field dispara na liderança.
O filme começa com o bonitão Cristi (Conrad Mericoffer, incrível) recebendo seu namorado francês para passar uns dias com ele e já de cara percebemos que Cristi se sente bem desconfortável ao encontrar a vizinha que lhes empresta a vaga de carro.
Conclusão: ele está no armário.
Apesar disso, a relação dele com o francês é bem amorosa, até que sua irmã chega para conhecer o famoso gringo, no que Cristi, de novo, já se fecha e se mostra bem desconfortável de novo.
Logo ele sai para trabalhar e em um plano sequência interminável de Cristi dentro de um carro, em um super close, conversando com seus colegas, não nos deixa saber para onde vai, quem são os outros e o mais angustiante, com o quê Cristi trabalha.
O nervoso termina quando vemos Cristi entrando em um cinema que foi invadido por fascistóides romenos que interromperam a projeção de um filme gay.
Cristi é um policial e junto com seus amigos policiais, chega lá para resolveram a situação esdrúxula.
A reviravolta de roteiro já acontece logo de cara e não sei nem se a chamaria de reviravolta, apesar de achar que o filme seria mais um daqueles draminhas românticos gays de casal que vai resolver suas tretas em um campo de papoulas numa viagem idílica cheia de cenas de beijos e contra luz.
Mas não.
Ah, o filme é baseado em um fato real, onde um bando paralisou a premiere de The Kids Are Alright por acharem o filme “gay demais”.
Tadinhos.
Dentro do cinema, os policiais tentam manter a ordem até que um dos espectadores se aproxima de Cristi e diz que o reconhece, que se lembra dele com o namorado, o que deixa o policial bem nervoso e apreensivo, dizendo que ele o está confundindo e tudo mais e aos poucos vai ficando mais e mais nervoso.
A grande coisa do roteiro de Poppy Field é nos mostrar sem dizer uma palavra que todos os colegas de Cristi, todos os outros policiais, sabem que ele é gay mas ninguém diz nada declaradamente.
O seu melhor amigo separa o policial do que o reconhece e conversando, nos faz entender que Cristi sabe que ele sabe e ele sabe que Cristi sabe que ele sabe.
Aquela situação de pisar em ovos mas que dá pra rachar alguns, que você não precisa ser absolutamente cuidadoso para lidar.
E assim acontece com todos os outros policiais que chegam para conversar com Cristi e fazê-lo se acalmar.
Do colega mais explosivo que a gente percebe que não tem muita paciência para o joguinho do quem sabe o quê até os mais próximos que os tratam com mais delicadeza mesmo.
Apesar de que a aura de macho do filme é presente o tempo inteiro.
Cristi é um dos personagens mais tensos dos últimos tensos: tenso com o namorado francês por perto, com o cara que o reconheceu, com seus colegas, com seu chefe, com seu amigo mais próximo que lhe dá carona quando saem do cinema e de novo dá dicas para Cristi não se preocupar, que ele sabe dele e que tudo bem, que o apoia.
O filme se passa sempre em ambientes fechados, primeiro o apartamento de Cristi.
Depois a sala de cinema que seria uma ambiente livre e aceitável, para a arte e para tudo mais, invadido por uma turba intolerante.
Daí o interior do carro de seu melhor amigo, em outro plano sequência angustiante onde Cristi entende o que está ouvindo mas nem respira direito para não dar nenhuma “bandeira”.
A única sequência em um lugar aberto é quando os policiais param para comer um sanduíche antes de voltarem para casa e onde Cristi recebe um telefonema do namorado e pela primeira vez vemos ele relaxado e falando com alguém bem íntimo não estando dentro de casa.
Esses são os tipos de detalhes que fazem o primeiro filme do diretor Eugen Jebeleanu uma pérola.
Saber onde colocar a ação para que ela tenha um significado maior, além do que ouvimos nos diálogos, onde o fechado e o aberto significam mais que ter ou não paredes é bem lindo.
Poppy Field é mais um filme que prova que o atual cinema romeno está com tudo e não está prosa.
NOTA: 1/2
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