O filme de número 50 publicado por aqui neste fatídico 2021 tinha que ser especial.
Judas e o Messias Negro é um drama político americano queridinho de festivais por onde passa.
E com razão.
Apesar de estarmos nos cansando de filmes americanos sobre “judas” infiltrados pelo FBI em grupos “radicais”, este filme, baseado na história real de um dos nomes proeminentes dos Pantera Negras em seu início e auge, no final da década de 1960.
O roteiro é o mesmo de sempre: um branquelo do FBI chega em um negro truqueiro que dá golpes bem vagabundos e oferece a esse homem liberdade em troca dele se infiltrar nos Panteras Negras de Chicago e ficar o mais próximo possível de seu “presidente”, o icônico Fred Hampton.
Todo o esquema de aproximação, criação de intimidade e até de um aparente entendimento filosófico do dedo duro O’Neal em relação ao que pregavam os Panteras mostra o quanto alguém pode ser pilantra e cara de pau e se por acaso se esforçasse um pouco, o quanto um cara desses poderia ser ator.
E daí vem uma questão que eu sempre me pergunto: os gênios do crime, que tanto tempo perdem criando formas absurdas de conseguirem dinheiro fácil, se esses gênios perdessem o mesmo tempo para conseguir formas de, sei lá, criar formas legítimas de trabalho ou de ajudar a comunidade ou de criar alguma coisa inovadora, o quanto essas pessoas ajudariam para um bem maior.
Mas não, o povo está interessado em livrar a sua pele e ganhar um dinheiro rápido e em princípio fácil, não importa o que o futuro lhes reservará.
E no caso desse filme, o futuro do dedo duro é impressionante até pra quem, como eu, torce contra.
Daniel Kaluuya ( de Corra! e Queen & Slim) dá um show como o líder dos Panteras Negras, segurando a onda em todos os momentos tensos do filme e mostrando a fragilidade necessária nas cenas delicadas e íntimas, que são poucas e se outras mais tivessem, talvez o filme fosse mais interessante do que apenas um retrato da personalidade e não do homem.
Mas quem rouba o filme é LaKeith Stanfield como o dedo duro mais frio dos últimos tempos.
Sua estreia em Sorry To Bother You me deixou totalmente impressionado mas aqui ele mostra total versatilidade como o pilantra que tem que passar por bonzinho enquanto está sendo mais pilantra ainda pelos motivos mais errados ainda.
As camadas são várias, as possibilidades quase infinitas e Stanfield mostra que pra ele não tem trabalho difícil.
NOTA: 1/2