Por mais que eu assista muitos filmes (e vocês sabem que eu assisto cada vez mais) eu passo meus dias esperando um filme como O Som do Silêncio aparecer.
E quando aparece, por mais que eu já estivesse lendo coisas boas a respeito, eu não esperava o arrebatamento.
A partir de um momento específico do filme, logo no início, eu comecei a chorar e não consegui parar até o final, em vários momentos que eram não só emocionantes mas também muito significativos cinematograficamente falando.
Eu por vezes não entendia porque estava chorando, já que o filme não é piegas, a história não foi escrita para te abalar de propósito e os personagens não passam por momentos épicos/emocionantes/lindos.
O Som do Silêncio é punk.
O Som do Silêncio é a estreia na direção do ótimo roteirista Darius Marder de quem já virei fã número 1 e não posso esperar o que vem por aí.
O filme conta a história de Ruben Stone, um baterista de uma banda/dupla de rock indiezona, barulhentona onde sua namorada Lou é a vocalista. Juntos eles moram em um trailer e viajam para tocar onde quer que consigam.
Um dia Ruben fica surdo. Totalmente.
Antes de contar para Lou, vai a um médico e descobre que só tem menos que 20% de audição em cada ouvido. E pira.
Lou descobre no meio de um show. Ela achava que ele estava doidão, já que foi viciado em heroína mas está há anos sóbrio.
Menos mal, ela diz.
Como eles não tem dinheiro, vivendo como vivem, ele consegue ser aceito em um grupo de apoio a pessoas que não ouvem e que também são adictos.
Em princípio ele não aceita, acha que não é para ele mas para sua sorte, Lou faz o que tem que fazer para que ele se interne imediatamente.
Lá, ele mantém uma proximidade com Joe, o criador e cabeça do projeto, o cara que vira meio que o grilo falante de Ruben, que mostra o que é e como vai ser sua vida dali para frente. E aos poucos Ruben vai percebendo que nem tudo está perdido.
Aos poucos eu quis dizer, quando ele começa a frequentar as reuniões religiosamente, quando começa terapias, dar aulas para crianças com o mesmo problema que o seu e principalmente, quando começa mesmo a respeitar e ouvir e fazer o que Joe manda que ele faça.
Tudo vai bem, tudo está bom até que o instinto de adicto, de nóia, de “perdido”, como Joe diz, fala mais alto e Ruben resolve tomar decisões importantes sobre sua vida sem pedir opiniões ou levar em consideração o que acham quem já passou pelo que ele está passando.
E mais uma vez a vida de Ruben vira de cabeça para baixo.
O problema é que sempre que vira, ele leva alguém junto, nunca é ele sozinho.
E mais que isso não conto porque o nível de emoção e de sinceridade do roteiro não me permitem.
Ruben é vivido pelo ator inglês Riz Ahmed.
Para quem não lembra dele, como diria uma personagem linda da Terça Insana, A Senadora Biônica, não tem importância.
Riz é um cara que sempre passou despercebido, sempre abaixo do radar das estrelas de cinema, apesar de nunca despercebido. Ele é um ator ótimo mas não tem (ou não tinha) o biotipo ou a cara ou o que quer que chamem hoje em dia para não soarem preconceituosos, como li em um artigo: ele sempre foi “muito árabe”.
Mas em 2016 Riz explodiu na nossa cara como o protagonista da ótimo The Night Of. Mesmo sendo muito árabe.
E a partir de então os olhos de diretores e produtores de elenco se abriram para esse cara que também é o RizMc, rapper ativista dos bons.
E eu ouso dizer que ele vai ser o vencedor do prêmio de Melhor Ator no Oscar 2021.
Não vai ter Hopkins nem Mank, nem Oldman que possam superar o que Riz faz como Ruben.
Seus extremos de humor e de desespero, seus silêncios, sua dor, sua angústia e principalmente suas conclusões silenciosas que enxergamos em seus olhos marejados pelo filme inteiro são uma nova modalidade de interpretação que eu vou começar a chamar de “olhos de Riz”.
Não poderia deixar de também falar do quanto Olivia Cooke está maravilhosa como a namorada também fudida e sofredora cheia de cortes nos braços e que abre mão do seu amor pela “sobrevivência” dele mesmo.
E principalmente não poderia deixar de falar de Paul Raci como Joe, um ator sempre relegado a última fileira de protagonismo, aquele lá do fundo que tem uma fala de vez em quando e que quando o colocaram na frente, quando o diretor Darius chegou a conclusão de que ele era o cara e brigou por isso, acabou acertando mais até do que em Riz, já que Joe parece um cara saído exatamente de onde o vemos no filme, já que além de um monte ele é filho de pais surdos, trabalha com deficientes auditivos sua vida em sua cia de teatro e é vocalista com linguagem de sinais de uma banda cover do Black Sabath.
Duvido que algum filme apareça até o final do ano que tire O Som do Silêncio do meu top 3 de 2020.
Ah, detalhe, o filme está no Prime da Amazon, então é facinho você chorar e se emocionar e não entender direito porque está chorando, apesar de estar vendo tudo com os seus próprios olhos.
NOTA: