Amei Shiva Baby.
Amo filmes que sejam recortes de uma história muito maior, me lembram muito os livros do Paul Auster, um dos meus autores preferidos que, inclusive, escreveu Leviathan sobre um cara que de saco cheio de tudo começou a viajar os EUA colocando fogo em estátuas da liberdade que encontrava pelo caminho (fica a dica).
Mas Shiva Baby.
Que filme.
Se você acha que o máximo de uma história de judias lésbicas era o filme bom mas morno Desobediência, por favor, vc tem até domingo para assistir essa preciosidade de graça no Mix Brasil.
Shiva é um daqueles encontros pós enterro na casa da família da pessoa morta onde quem participou do enterro vai para comer e conversar e lembrar do falecido. (se falei bobagem, por favor, me corrijam)
No filme, Danielle vai a um Shiva logo depois de ter tido um encontro com um de seus clientes.
Ela é uma adolescente que ganha dinheiro como acompanhante, sem que obviamente ninguém de sua família ou amigos saibam.
Ninguém mesmo, nem sua paixão Maya, sua melhor amiga, com quem cresceu e com quem atingiu o orgasmo pela primeira vez, como ela deixa bem claro em certo momento do filme.
Só que Maya foi afastada de Danielle porque, né, imagina moças judias respeitadas serem lésbicas.
Mas lá estão as duas, que não se falam mais como faziam antigamente.
Danielle tentando se esquivar de todas as perguntas de seus pais, suas tias, das amigas da família sobre namorados, o que faz na escola, quando vai trabalhar, o de sempre, enquanto tenta não se sentir tão desconfortável com a presença de Maya.
Como se esse fosse o maior de seus problemas, porque de repente entra na casa um amigo de seu pai, Max, que por acaso era o cliente com quem Danielle estava antes de ir ao shiva.
O chão abre sob seus pés bem devagarinho mas ela é forte, determinada a não se deixar abalar por essa coincidência horrorosa.
E quando eu achava que as coisas não podia ser mais desastrosas, não só Danielle “força a amizade” como o acaso, que não existe, mostra que está sempre disposto a cooperar.
Shiva Baby acontece quase que eu tempo real quase que inteiro nesse encontro que deveria ser de tristeza mas como a gente sabe, quando junta família, as fofocas não param e a curiosidade é a mãe das reviravoltas de roteiro.
O filme escrito e dirigido pela talentosa Emma Seligman (a partir de seu curta homônimo de sucesso) é um tour de force, cheio de personagens perfeitos que ficam correndo atrás de uma história que vai acontecendo a olhos vistos, surpreendendo a tudo e a todos.
Pense de novo comigo: a história da adolescente judia lésbica que faz programa com homens mais velhos reencontra sua namorada que é praticamente sua prima ao mesmo tempo que encontra seu cliente que é amigo de seu pai.
Receita para o desastre.
Ou para uma tragi-comédia das melhores, onde o bom humor e o drama farsesco estão lado a lado.
Depois de Minyan, outro filme judeu gay maravilhoso que vi este ano, meu preferido de 2020, inclusive, Shiva Baby entra para a lista dos mais interessantes e bem realizados desta safra boa.
Para assistir o filme online gratuitamente, clique aqui.
NOTA: