Minyan é um filme que começa e termina com velórios.
E o que poderia ser o indicativo de uma revolta de 360 graus ou de tudo que termina começa de novo, Minyan não poderia ser mais disruptivo do que é nos contando a vida de David, um jovem judeu que nos anos 1980, vive em sua comunidade religiosa fechada.
A vida toda de David (Samuel Levine, surpresa incrível) já foi planejada por seu pai violento e canalha e por sua mãe extremamente protetora (o cúmulo da mãe judia).
Só que quando seu avô fica viúvo (Ron Rifkin, cada vez melhor) e precisa morar em um apartamento mais barato, David vai morar com ele e tudo muda.
Ele não só aos poucos vai abrindo seus olhos para o que acontece em sua volta como também por isso, descobre que do outro lado da rua sempre teve um bar gay onde ele entra pela primeira vez e se sente do outro lado do mundo.
O moleque lindo atrai imediatamente atenção de um homem mais velho que lhe paga vários drinques mas não consegue tirar os olhos do barman fortão descamisado lendo James Baldwin.
O que pode soar como uma lista de estereótipos do mundo gay, incrivelmente é o que geralmente acontece e David não só finalmente se descobre como descobre seu mundo que mesmo sendo óbvio para ele, esteve distante até a hora que resolveu entrar pelas portas do tal bar.
Apesar de todo preconceito religioso e de todo preconceito que sua própria religião em relação a esse novo “estilo de vida” de David, ele não tem mais como negar sua paixão pelo barman, sua descoberta de uma literatura “diferente” com James Baldwin, os vizinhos do apartamento novo de seu avô que moram juntos desde que ambas esposas morreram, as explicações óbvias do comportamento de seu pai e de sua mãe.
Tudo que sempre esteve a um palmo de distância mas que precisavam que David atravessasse a rua, que abrisse os olhos, que “se permitisse” e sua vida dá uma guinada não de 360 graus porque nada mais será como antes.
Minyan é o primeiro filme de ficção do documentarista Eric Steel, que já nos deu o ótimo e controverso The Bridge.
E se ele continuar nessa levada de sutileza de roteiro, de elenco, de direção, de trilha que pontua todas as transições do filme com toques minimalistas de violino ou de algum instrumento de sopro, bem judeu para não esquecermos de onde David veio.
Não que em algum momento poderíamos esquecer já que sua vida gira em torno de sua religião, algo que não o incomoda mas que faz com que sua cabeça quase exploda ao entrar em momentos de não entender tudo o que está acontecendo com ele e como isso tudo funciona ao mesmo tempo, apesar de todos os pesares, neste filme sombrio e solene, quase como uma celebração religiosa.
NOTA: 1/2