O Despertar de Fanny Lye é o filme mais estranho que eu vi na Mostra de Cinema de São Paulo.
E isso é ótimo, em um ano cheio filmes “fora da casinha”.
Fanny Lye é uma personagem da história inglesa que serve de imagem perfeita da mulher forte e empoderada séculos antes dessa denominação chegar a existir.
Fanny era a esposa de um militar mais velho, ferido e com ele tinha um filho com quem morava em uma casa no meio do nada, cuidando de suas terras e de sua família na Inglaterra do século XVII.
Voltando da igreja um dia, Fanny e seu marido encontram um casal escondido em suas terras, usando roupas da família e dizendo que precisavam se esconder porque tinham sido atacados e roubados na estrada.
Aos poucos a verdade vai aparecendo e o que parecia ser uma casa tranquila de uma família que estava ajudando um jovem casal acidentado na verdade vai se transformando em uma história de horror caipira inesperado com cenas mais explícitas do que eu esperava e com vários momentos de queixo caindo.
Thomas Clay, o roteirista e diretor de Fanny Lye se mostra uma força nova e potente no cinema contemporâneo inglês, com um filme que nada parece ter sido feito nas ilhas da família real britânica.
O filme é um huis clos com um elenco de 8 pessoas sem falas perdidas, sem movimentos supérfluos e com muito, mas muito talento de sobra.
Maxine Peake é a Fanny Lye perfeita, a mulher que aos poucos vai se mostrando o ícone que é hoje em dia para o movimento feminista.
Charles Dance é o marido de Fanny tão frio e cruel como deveria ser, o oposto do casal vivido pelos não menos ótimos Freddie Fox e Tanya Reynolds, com suas ideias e atitudes que chocam e colocam de cabeça pra baixo o casal Lye.
Em um papel menor mas não menos importante está Peter McDonald como o oficial a procura do casal fugitivo, o monstro que se mostra já em sua primeira cena.
O Despertar de Fanny Lye é um excerto importante de uma história que serve de referência, onde uma mulher descobre que sua força está muito além do que querem que ela tenha conhecimento.
A Fanny Lye de Maxine Peak é uma das grandes personagens de 2020, vivendo cenas já icônicas, mostrando que um diálogos bem escritos em cenários bem criados pelas mãos talentosas de um diretor ousado são cada vez mais necessárias em um mundo como o de hoje.
Eu assisti O Despertar de Fanny Lye na Mostra de SP mas ele já está pelas internets da vida há algum tempo, só caçar direitinho.
NOTA: 1/2