Poucos lugares do mundo pra mim são mais animais que a Mongólia, uma nação nascida ao longo de um deserto, coisa mais linda.
As Veias do Mundo é o filme da Mongólia, coisa rara, na programação da Mostra de São Paulo.
Só por ser de lá eu já aconselharia a você assistir o filme.
Só que As Veias do Mundo é um grande filme.
Filme caipira, filme de caipira, no melhor sentido do termo, aquele caipira de tradição, de lendas, de esperança, de ingenuidade sem ser piegas, de reinvenção, de criação de mundos e universos, mas o caipira de 2020 que sabe o que acontece a sua volta, poderoso.
Amra é um moleque de 11 anos de idade que mora com seus pais e sua irmã mais nova em uma cabana no estepe da Mongólia, uma típica família nômade onde a mãe cuida do rebanho de cabras, faz queijo e o pai ganha dinheiro como consegue, sendo um faz tudo conhecido da região.
Amra, como seu primo e seus amigos da escola, assiste muito vídeo no youtube e está agora viciado em America’s Got Talent porque quer participar da versão que acontecerá logo em seu país.
Só que o programa de tv não é a única identificação do ocidente do século XXI por lá.
As companhias mineradoras gringas estão chegando com a força total no país atrás de ouro. Só que para isso, eles precisam que as famílias, principalmente as nômades, saiam de suas terras e abandonem sua história por um punhado de dólares.
Claro que as mineradoras são muito mais nocivas que o youtube e vão deixando rastros de sangue e de podridão por onde passam, não se importando com as famílias que por lá vivem há séculos, nem com as cabras ou os queijos ou as crianças. Nem com nada.
As Veias do Mundo mostra na nossa cara, como filme caipira e ingênuo que é, o começo do fim.
Ou melhor, uma tentativa de resistência a esse fim.
Uma tentativa de parar com esse começo.
Toda a força política do filme não fica em segundo plano, mas As Veias do Mundo está longe de ser panfletário, o que dá ao filme um sentido mais importante e contemporâneo ainda.
NOTA: 1/2