#alertafilmão de cara.
A Deusa dos Vagalumes mortos desbancou Berlin, Alexanderplatz como meu filme preferido da Mostra de São Paulo.
O filme pode ser considerado o irmão canadense de um dos meus preferidos de 2020, Jantar na América, que eu vi no fantasia Festival em agosto mas que também está online na #mostrasp.
Ambos os filmes se passam nos anos 1990’s e falam da molecada daquela época, saindo da adolescência e descobrindo o sexo, as drogas e o rocknroll, de uma forma brutal, muito sensual, sobre uma geração que ainda foi pouco retratada no cinema mas que tem dado frutos e filmes maravilhosos.
O filme americano eu chamo de comédia romântica punk, bem engraçado, quase fofo e com um casal principal perfeito.
A Deusa dos Vagalumes tem a atriz mais ANIMAL do festival, Kelly Depeault, que aos 18 anos de idade me arrancou sorrisos e lágrimas, me fez lembrar de minha adolescência tardia, de algumas fases mais punks da minha vida, me fez pensar muito na adolescência da minha filha e o melhor, me deixou com a certeza de que uma garota, quando tem talento e é bem dirigida, além de tudo isso nos deixa de quatro.
Kelly Depeault é Cat, a adolescente filha de um casal bem perturbado que mais briga que conversa. Na escola é aquela menina que passa desapercebida até que olha demais pro delinquentezinho bonitinho e apanha da namorada delinquetezinha do moleque.
Só que logo depois essa turminha meio que do mal abraça Cat e aos poucos vemos a menininha fofa desabrochar.
No melhor e no pior sentido.
Como toda boa adolescente, Cat se joga de cabeça nesse novo mundinho de muita música boa, ouvindo de Nirvana e Bowie em mixtapes de fitas K7, que embalam os encontros dessa molecada, regados a pouco álcool e muita droga, já que para facilitar a parada toda, o namorado de uma das meninas é o traficante de mescalina das redondezas.
Detalhes: todos menores de idade, fugindo da polícia, arrumando casa abandonada no meio do mato para ficarem de boa, tentando transar como podem e como sabem (ou não sabem) e se perdendo tanto no pó branco até não conseguirem esconder mais.
A história de Cat poderia ser aquela careta, cheia de julgamentos morais, principalmente porque seus pais, apesar de beberem iguais uns animais e brigarem iguais outros, não enxergam o que está acontecendo com sua filha debaixo de suas barbas.
E o que poderia ser um filme pesadão, meio Christiane F., que aliás é o livro que Cat ganha da mãe ao completar 15 anos, por causa de Anaïs Barbeau-Lavalette, uma diretora talentosa que com certeza sabe muito de adolescência e de crescimento, se bobear a partir até das próprias lembranças, faz com que o filme seja bem sossegado, apesar de todos os temas bem tensos e complicados que aparecem enfileirados, um atrás do outro.
Bullying, brigas, flerte, namoro, ciúme, sexo (quase) explícito, drogas, mais drogas, mais brigas, polícia, pais ausentes, descuido mas muito amor adolescente, o que faz de A Deusa dos Vagalumes uma pérola.
Nas mãos de alguém menos talentoso, o filme seria um explotation, quase soft core pornô, mas para nossa sorte, assistimos algo bem longe disso.
A contemplação natural, o elenco talentoso, os atores jovens totalmente em seu território, confortáveis o suficiente para viverem situações extremas fazem com que nos entreguemos totalmente a história de Cat.
Torcer por ela é óbvio. Sentir pena, raiva carinho, medo, desespero por ela, é tudo muito fácil.
E por tudo isso somos recompensados com uma história muito bem contada, muito bem fotografada e com uma das sequências mais lindas do ano, por enquanto pra mim “a sequência” da Mostra de SP, onde Cat e Kevin dão uma volta linda de bicicleta ao som do Rock n Roll Suicide do David Bowie.
NOTA: 1/2