Aaaaaaleluia.
Finalmente eu gostei de um filme da Miranda July.
Juro que eu achei que esse dia não chegaria.
Miranda é a diretora queridinha de todo mundo. Todo. Mundo.
Kajillionaire é uma doiderinha tão boa, tão gostosa que eu acho que Miranda chegou a um nível de direção e principalmente de roteiro que pouca gente alcança hoje em dia.
Kajillionaire é um primo de primeiro grau dos filmes do francês Quentin Dupieux, meu tão amado Mr. Oizo e como digo nos filmes dele posso repetir aqui: o filme parece um filme dos Trapalhões escrito por uma filósofa muito bem humorada.
O filme conta a história uma família pra lá de bizarra, mãe, pai e filha que vivem de comida que encontram no lixo e de dinheiro que conseguem dando pequenos golpes.
Mas quando digo pequenos, são bem pequenos mesmo. Eles não tem dinheiro pra nada.
Moram em um escritório fechado e “condenado” que tem um vazamento absurdo de uma gosma cor de rosa nas paredes.
Um dia, no meio de um golpe que eles estão dando em uma viagem de avião, eles conhecem uma mulher que sem querer os embebeda, ouve a história do golpe e topa participar com eles.
O que ninguém esperava é que essa mulher aos poucos vai aos poucos quebrando a rotina e a química perfeita que existia na família.
O que vai ser bom, mas não para todo mundo.
O elenco de Kajillionaire é um espetáculo à parte. Ou por causa do filme, claro, mas é de ser aplaudido de joelhos.
A mãe doida é vivida pela maravilhosa Debra Winger, voltando aos poucos ao cinema, cada vez melhor. O pai é Richard Jenkins, um daqueles atores coadjuvantes de Hollywood que sempre mereceu um papel grande à sua altura e finalmente chegou.
Quem brilha com razão é a filha, uma mulher de 26 anos de idade que se comporta como uma adolescente perdida, que se esconde atrás de seu cabelo e de sua roupa, que acha que é uma ninja e que quando menos esperamos se mostra a melhor truqueira. Tudo isso não só graças ao roteiro mas muito por ter sido vivida pela diva Evan Rachel Wood.
Que mulher. Que. Mulher.
E a quarta personagem desse ménage do além é a vendedora de óculos que sem saber onde está se enfiando, resolve participar dos truques da família e vira um membro torto da turma, vivida pela também maravilhosa Gina Rodriguez, que eu ainda espero que tenha o espaço que merece no cinema, no nível do que ela tem na televisão.
Com esses 4 artistas, Miranda July faz um filme que poucos fariam. Em Hollywood, nem sei quem faria, pra ser sincero.
Miranda se mostra uma filha bem humorada de David Lynch, criando Kajillionaire como um filme de amor. Bizarro, estranho, doido, mas de amor.
E não há nada melhor do que criar roteiros complexos e bizarros para contar histórias em princípio simples.
Melhor ainda quando uma diretora atinge esse nível que Miranda July alcançou onde a cinematografia é a arma mais poderosa para se contar essa história.
E é exatamente isso que me incomodava em seus filmes anteriores. Miranda era menos uma diretora que uma artista plástica. O cinema em seus filmes anteriores eram apenas uma plataforma para contar as suas histórias que transcendiam a forma.
Quero dizer que seus filmes anteriores eram menos filmes da Miranda July e mais “obras” da Miranda July.
Tô feliz que chegou o dia que Miranda July vira a diretora monstra que ela merece ser.
NOTA: 1/2