A Sun é uma pérola taiwanesa perdida no mar de mediocridade da Netflix.
O filme, representante de Taiwan na corrida pelo Oscar de filme de língua não inglesa, poderia ser descrito como um primo longínquo do preferido de todos Parasita, sobre uma família pobre de uma país do oriente que lá com uma genialidade cômica, aqui com uma violência dramática, sobrevive.
Mas a sobrevivência nesse caso vem cheia de baques, de porradas e de cicatrizes que vão sendo abertas à medida que o tempo vai passando pelas 2 horas e meia de filme que não parecem durar mais do que uma comédia romântica besta que a gente adora ver.
A Sun começa com os 2 pés no nosso peito, já com uma briga de gangues que termina com uma prisão e com o subsequente trauma causado na família pelo filho indo para trás das grades.
E pior, com o pai não aceitando as desculpas do jovem e pedindo para que ele pague por seu crime longe deles, numa das cenas que dão o tom da carga dramática do filme. E que ao assistí-la, eu pelo menos, depois de conseguir retomar minha respiração, chego a conclusão que as reações são mais que compreensíveis, do pai revoltado, da mãe tentando entender tudo, do filho tentando se justificar e do seu parceiro de gangue ameaçador.
O que acontece com a família depois da prisão é uma bola de neve que vista sob o microscópio de um diretor tão bom quanto Chung Mong-Hong faz parecer ainda maior e mais gelada e mais perigosa, à medida que o tempo vai passando.
Falta de dinheiro, gravidez inesperada, morte, sofrimento, muito sofrimento, muita porrada, chantagem, tentativas e mais tentativas de uma vida melhor ou de ajustes que no nosso dia a dia acontecem num período longo de tempo e que a gente nem percebe tanto suas consequências, em A Sun esse longo período, muitos anos se passam na duração do filme, então todas as tentativas, as frustradas e as que são sucesso acontecem na nossa frente com todas as consequências como que emparelhadas uma logo após a outra, de novo, sem nos deixar respirar tanto.
A Sun é a prova de que o mundo gira, como a Terra se movimenta em torno do sol e como as coisas acontecem por um motivo e suas consequências podem sim depender de como nós enxergamos e conduzimos esses movimentos todos.
Uma família que não passa por tudo o que a família do filme passa, eu acho que nem existe. O que existe é família que esconde suas histórias, por medo, vergonha ou os 2 juntos.
A Sun está aí para nos mostrar que se “mãe é tudo igual só muda de endereço”, família também é tudo igual, seus medos, amores, desejos, sofrimentos, alegrias são sempre os mesmos, só mudam de ordem, de importância, de consequências e de endereço.
NOTA: