E lá vem o cinema chileno quebrando tudo.
O Príncipe é um absurdo de filme bom, extremamente violento sem mostrar tanto sangue, já que falta porrada e sobra submissão involuntária.
O príncipe do título é Jaime, um jovem gay lindo e bem narcisista, daqueles que se acham demais, tanto que cometeu um assassinato por motivo bem estúpido.
Ao chegar na cadeia ele logo cai nas graças de um dos chefões presos, Potro, que tem a melhor cela e vive cercado de jovens para satisfazerem todas as suas necessidades.
Mas ele não é viado não, é casado, recebe visitas da esposa, da família toda, mas lá dentro ele “escolheu” como sobreviver.
Mas Jaime não é assim tão bonzinho como as pessoas acham, já que dizem que sua beleza é o que o salva.
A tensão criada pelo roteirista e diretor Sebastián Muñoz reflete bem a tensão que provavelmente vivia o resto do Chile em 1970, época que o filme se passa.
E a gente pode entender já que por aqui a situação era a mesma, ditadura militar no Brasil, um tempo antes do Allende chegar ao poder por lá.
O Príncipe deve muito ao maravilhoso O Beijo da Mulher Aranha, politicamente, esteticamente e sexualmente, sem chegar à maestria do Babenco e a sutileza do texto do Puig.
Mas a tensão toda do filme, os gatos da cela, os detalhes que vão ajudando a contar a história são ótimos, quase um Jean Genet na América Latina em 1970, onde o sexo, a política, os jogos de poder e de dominação, a inveja, são fundamentais em uma história profunda.
O Príncipe é daqueles filmes que te incomodam o tempo inteiro, tipo uma coceira na perna, por exemplo, que você não tem certeza de onde exatamente.
Daí você percebe que tudo era mais claro e sossegado do que parecia, só que quando consegue relaxar, sua perna está toda vermelha com marcas de suas unhas que arranharam tudo.
NOTA: