Para minha tristeza, hoje, dia 2 de setembro, é o último dia do incrível Fantasia Festival, o festival canadense maravilhoso, de cinema de gênero, como se chama hoje em dia, que vai do horror à fantasia, passando por tudo no meio.
Vou continuar nos próximos dias ainda falando de filmes que vi pelo festival mas termino essa saga com o melhor deles, o indiezaço americano Dinner In America, uma comédia romântica punk.
Quem diria que o melhor filme que eu vi em meio a muita coisa estranha, pro bem e pro mal, seria um filme sobre uma história de amor punk nos anos 1990.
Primeiro eu queria parabenizar a curadoria do festival por enxergar que esse filme coube como uma luva na programação e por ter a coragem de colocar um filme bem realista até, nada “fantasioso” nessa lista.
Patty é a estranhona do bairro classe média porcaria da periferia de Detroit, onde ela mora.
Ela tem 20 anos, já acabou a escola, ainda mora com os pais, trabalha numa pet shop, é chamada de retardada pela molecada escrota e se salva ouvindo punk rock.
Ah, e Patty acha que é a namorada musical do vocalista que ninguém sabe quem é de uma banda punk conhecidinha na região de Detroit, uma lenda local.
Ela gosta tanto do cara que toda semana manda uma carta pra ele com um poema de amor, que mais parece letra de música e com uma nude que ela tira com sua polaroid.
Toda semana.
Simon é um truqueirão, usuário de várias drogas, várias, bem punk, bem revoltadão, que fica vagando pela cidade procurando uma casa pra passar uns dias mas que com sua revolta com o mundo, geralmente acaba tretando com as famílias que o acolhem e então colocando fogo nas casas.
Sim, porque Simon inventa um monte de história doida pra que as meninas, que em princípio já se sentem atraídas pelo punk loiro bonitinho white trash, o levem para suas casas.
E é durante os jantares em família (ó o título do filme) que a coisa pega.
Fugindo de uma casa e procurando uma próxima, Simon encontra Patty e tudo muda.
A doidinha estranha (sim, ela é bem estranha mesmo, mais que o punk de moicano caído) leva Simon pra casa e olha só, sua família se mostra menos radical que as outras e o acolhe, apesar de todos os pesares.
Duas personalidades tão diferentes se encontram em um acaso inacreditável que aos poucos formam o casal mais bacana dos últimos tempos.
A história de Patty e Simon é a criação perfeita do diretor Adam Rehmeier que viveu essa cena punk caipira americana nos anos 1990 e usa de sua genialidade cinematográfica (sim, já considero o cara um geniozinho das telas) pra nos mostrar esse amor todo.
O filme tem pelo menos um cena que já entrou pra minha história de preferidas quando Patty e Simon gravam uma música juntos, ele tocando todos os instrumentos, usando um gravador K7 de 4 faixas e ela cantando um dos poemas que escreveu.
É de arrepiar só de lembrar.
Mais do que uma crítica ao estabelecido, ao bundamolismo da classe média americana, Dinner In America é uma história de amor, daqueles que nascem das situações mais estranhas e crescem como um flor linda e branca no lodo.
Pra terminar, tenho que declarar meu amor eterno ao casal de atores principais do filme.
Patty é vivida pela, juro, maravilhosa (que eu não conhecia direito e virei fã número 1) Emilly Skeggs. Que atriz. Que absurdo de atriz. Ela está no momento na Broadway virando super estrela com um musical chamado Fun Home onde recebeu indicação de melhor atriz nos Tony Awards e indicação ao Grammy por cantar no álbum da peça. Um arraso.
Simon é vivido pelo também maravilhoso Kyle Gallner que também já fez um monte de coisas pequenas no cinema mas que com certeza depois desse filme vai crescer e atingir um patamar que merece, porque o cara é bem demais.
Nada vai me fazer tirar esse filme dos 10 melhores de 2020.
NOTA: