The Old Guard, o novo filme da Charlize Theron, co-produzido pela Netflix, é o tipo de filme de super herói que eu gosto.
Mas não dá pra começar a falar desse filme sem falar do maravilhoso Highlander, filme britânico de 1986, dirigido pelo muso Russell Mulcahy, sobre uma “raça” de humanos que nunca morriam, os highlanders, que viviam nas highlands escocesas, não por acaso meu lugar preferido no mundo.
Quase não morriam porque como todo super herói, ou super vilão ou monstro por assim dizer, os highlanders tinham um ponto fraco, que era super bem desenvolvido no filme que criou toda uma mitologia sobre os imortais, totalmente utilizada tanto na graphic novel que deu origem a The Old Guard como no próprio filme, escrito por Greg Rucka, o autor da GN.
Se pensarmos a fundo, a filosofia dos imortais vem dos vampiros, que vem dos deuses egípcios, que vem de toda a mitologia existente pelo mundo quando se trata de seres imortais.
Uma das grandes coisas do filme The Old Guard é não ter deixado de lado a história das personagens, usando sempre que possível flashbacks para explicar alguma coisa que estava acontecendo ou para justificar alguma atitude que pudesse ser estranha.
A história dos personagens, suas origens e sua passagem pela história do mundo é tão importante que The Old Guard tem um personagem obcecado pelas vidas desses imortais.
Sim, The Old Guard conta a história de um grupo de “mercenários” comandados por Andy (Charlize), sendo que os 4 são imortais, se curando quase que imediatamente de “casualidades” de combate, como um Wolverine.
Algumas particularidades desse povo é tão boa, tão bem escrita como o momento que todos eles sentem/sonham com mais um imortal novinho que acabou de aparecer, como se eles tivessem uma conexão cerebral própria, como se dividissem memórias e sentimentos, fossem folhas de uma mesma árvore.
Assim entra a quinta imortal no grupo, não tanto por vontade própria mas por falta de opção, como explicam para ela, já que ela não pode se relacionar com nenhum ser humano se não quiser sofrer com a velhice e a morte dessas pessoas.
E o melhor de tudo, quase: um casal de super heróis imortais gays mega apaixonados.
Mas e qual é a pegadinha do filme, cadê o drama, pergunta você.
Respondo eu: um jovem bilionário dono de uma indústria farmacêutica que quer de qualquer maneira capturar esses imortais para usá-los de cobaia e descobrir geneticamente porque eles não morrem.
E transformar isso em remédio e vender bilhões, obviamente, além dele próprio não morrer.
Esse vilão quase patético, de cabelo encaracolado, olhos esbugalhados, meio vilão de quadrinhos mesmo é o que tira o filme da filosofia linda e tensa e o leva para a porrada boa.
Quando falei que esse tipo de super herói eu gostava quis dizer que os imortais tem tudo de super herói mesmo: por causa de seus poderes especiais que pouquíssimos seres humanos possuem, eles precisam viver escondidos, não podem aparecer em fotos, não podem deixar rastros mas os poucos que deixam são mostrados no filme, tão antigos quanto possíveis em histórias ótimas.
Detalhe super importante: tudo isso dirigido por uma mulher, a ótima Gina Prince-Bythewood, que deixa suas pegadas pelo filme inteiro.
No meio de The Old Guard eu estava muito torcendo para que o filme terminasse bem e tivesse continuações, de tanto que gostei do rumo que o roteiro vinha tomando, mostrando muito claramente a diferença de um material baseado em graphic novel, em história em quadrinhos para adultos e da profundidade de suas histórias e personagens, completamente diferente do que vem de quadrinhos de super heróis que ninguém aguenta mais ver.
Me dei bem no pedido.
NOTA: