Quando você acha que não aguenta mais assistir filme de zumbi morrendo, com cabeças arrancadas, explodidas, aparece um indie canadense que tem um cara que enfia uma serra elétrica no crânio de um morto vivo.
Romero agradece lá da tumba.
Só isso já seria imagem suficiente pra te fazer assistir Blood Quantum, mas eu preciso contar mais.
Blood Quantum é a “contagem de sangue” que caracteriza a carga hereditária de alguém.
Se você tem 1/4 de, por exemplo, sangue romeno, você não pode se considerar romeno. Você precisa ter pelo menos 1/2 da contagem de sangue. E essa é uma informação fundamental para o roteiro de Blood Quantum.
Neste horror com os 2 pés na crítica social pesada (que se encaixa perfeitamente no ótimo roteiro), quem é descendente “de sangue” dos Red Crows canadenses não se infecta pelo vírus zumbi que ataca o mundo inteiro.
Mas isso não é carta branca suficiente para o povo que vive em sua reserva mas que aos poucos vê a chegada dos mortos vivos e por isso precisa de qualquer forma fugir para um lugar seguro.
Metáfora descarada suficiente pra você?
Mas não se deixe enganar se acha que o filme é só a crítica social com todo tipo de personagem que vai do ancião que protege a terra e os costumes até o último momento ao jovem que, apesar da herança, quer saber o que acontece do lado de lá e o outro que usa da “desculpa” da herança para agir quase como um fascista xenófobo.
Todos os problemas de Blood Quantum, que são vários, não estragam o produto final: o elenco é quase inteiro de não atores que gritam mais do que deveriam, mas que quase gritam mesmo para serem ouvidos; a direção de arte é quase inexistente, o que em um filme com esses temas seria a cereja do bolo.
Mas a precisão do roteiro é linda demais e a mudança de linha de direção depois do mundo ter sido infectado é coisa de quem sabe o que está fazendo demais.
Todas as glórias ao diretor Jeff Barnaby, ele mesmo um Red Crow que como podemos ver, sabe bem do que está falando.
Muito sangue, muitos monstrinhos despedaçados, muito discurso social e muita gritaria é a improvável fórmula que deu muito certo em Blood Quantum.
NOTA: