Filmes sobre adolescentes com doença terminal e seus primeiros (e últimos) amores existem aos borbotões, sempre com histórias grandiosas de superação, entrega e lágrimas, muitas lágrimas, como A Culpa é das Estrelas, um dos que eu mais chorei na vida.
E existe Dente de Leite, o filme que não deixa pedra sobre pedra desse braço da comédia romântica quase mórbida.
Este filme australiano é daqueles que ao final da exibição, você tem que se recompor e pensar onde você está, do chacoalhão que recebe.
Antes do filme em si quero deixar claro meu amor e admiração infinita a sua diretora, Shannon Murphy, minha nova ídola.
Todo mundo sabe que dente de leite é a metáfora para ingenuidade, para quem está começando, certo?
O filme conta a história de Milla, a tal da adolescente (dente de leite) que está morrendo e de seu amor incondicional por um traficantezinho todo zuado que “salva sua vida” no metrô, num golpezinho besta pra pedir dinheiro à menina.
Ela, de uniforme escolar, toda arrumadinha segurando a case do seu violino se encanta imediatamente com o magrelo cheio de tatuagem na cara, com cheiro de quem não toma banho a uns dias.
Amor adolescente complicado, unilateral, já que o moleque quer dinheiro e ela quer carinho e excitação, viver seus últimos dias a mil.
Os pais de Milla ficam chocados com seu novo “amigo”, apesar da mãe dela estar doida de remédios o tempo inteiro, principalmente quando o critica por vender drogas.
Mas a grande coisa do filme é contar uma história que a gente (acha que) já viu da forma mais bem pensada e cheia de referências lindas que por vezes eu achei que estava lendo a Graphic Novel mais legal de todas, porque era com imagens em movimento e áudio.
Milla é a personagem mais fofa e apaixonante que você vai ver nesses dias pandêmicos.
A menina quase adulta por ter que lidar com uma condição extrema, nos dá lição de vida, de ânimo e de moral sem que a gente perceba.
A crescente do relacionamento dela com o traficante é linda. O momento que ele descobre estar também apaixonado, apesar de ser quase um clichê, é filmado com as cores do primeiro amor, da descoberta excitante.
Seus pais, vividos por um par absurdo, Essie Davis e Ben Mendelsohn, me fizeram rir de raiva e chorar de emoção as vezes ao mesmo tempo.
Aliás, Essie que esteve em Game of Thrones e O Senhor Babadook e Ben que esteve em Jogador Número 1, são daqueles atores não tão famosos que sempre me deixam pensando como eles não estão estrelando filmes importantes ainda. Mas fico bem feliz em saber que tem muita atriz fodona e muito ator fodão prestes a estourar.
Agora, Dente de Leite é de Eliza Scanlen (Adoráveis Mulheres, Sharp Objects) que parece ter nascido para dar vida a Milla.
O nível de interpretação dela, de idas e vindas, de mudança de comportamento e temperamento muitas vezes em uma única cena, são coisas de atriz muito experiente.
Dente de Leite é um filme bem intenso. Bem intenso mesmo. Tudo é rápido, apesar dele ser um filme relativamente lento. Mas as emoções estão à flor da pele o tempo inteiro, em todas as cenas, em todos os diáologos.
É um filme que depois de uns dias na cabeça não consigo pensar um momento desnecessário, uma cena que não precisava existir, um letreiro a mais, nada, nadinha.
Se eu tiver que escolher o melhor final de filme de 2020, duvido que apareça outro que tire a conclusão de Dente de Leite do topo.
NOTA: