Sabe qual é o grande problema do Spike Lee? É que ele entende de cinema como poucos e sabe filmar como ninguém.
Esse é o segredo do grande diretor: não só saber onde colocar a câmera, enquadrar, mas também saber pra que servem os cortes, os movimentos de câmera e todos os detalhezinhos do fazer cinematográfico.
Em Destacamento Blood, logo de cara a gente vê Lee quebrando regras de edição em uma cena em princípio banal, que passaria desapercebida não fosse pelo detalhezinho que “incomoda um pouco, mas é um incômodo bom”, que é repetir abraços, o que será bem importante ao longo do filme.
E isso é o que esse diretor genial faz, vai nos dando uma trilha das mais saborosas migalhas do melhor pão como se estivesse segurando na mão de cada espectador ao longo do (longo?) caminho de Destacamento Blood, já que em tempos de DDA, um filme com 2h35 é quase um esforço.
Mas a medida que a gente descobre o que é de verdade o filme, porque aqueles 4 amigos que formavam o tal destacamento Blood estão de volta ao Vietnã depois de 50 anos.
Mas o melhor de tudo é descobrir que Spike Lee, the one and only, fez um pseudo filme de guerra, ou de pós guerra, para falar de colonialismo, de preconceito, de herança de sangue, de amizade, de egoísmo e olha só, quem diria, do Trump.
E quer saber mais? O filme é da Netflix. Chora!
Destacamento Blood é mais um dos filmes obrigatórios do diretor americano que já fez de tudo, ou assim eu achava, já que a cada filme Lee me surpreende.
Não por menos Infiltrado na Klan é um dos meus preferidos dos últimos anos.
Destacamento Blood é um filme que tem cara de chorume de guerra, com um bom humor quase trágico e poderia até dizer que é cheio de reviravoltas de roteiro.
Mas não é nada disso.
O filme é tudo isso e um monte mais, tudo para mais uma vez nos jogar na cara que nós falhamos miseravelmente como sociedade mas que mesmo assim, a esperança existe nos lugares mais insólitos e nas pessoas mais improváveis.
E o que pode ser melhor que um filme estrelado pelo maravilhoso Delroy Lindo, com uma ponta genial do Chadwick Boseman, com o nosso francês preferido Jean Reno e com a trilha cheia de canções do Marvin Gaye?
O melhor. Fim.
Que os tiros de metralhadora, que as cobras peçonhentas, que os vilões (quem quer que eles sejam no filme) não te enganem: Destacamento Blood é o banho de verdade que você precisa tomar hoje.
NOTA: 1/2