Quando eu terminei de assistir Sonhos de Uma Vida eu pensei em nem postar sobre o filme de tão ruinzinho que é.
Mas nos últimos dias me peguei pensando em como nossos sonhos, nossas histórias, nossas memórias vão sofrendo com a passagem do tempo, com as mudanças que vão acontecendo em nossas vidas e o quanto isso influencia nas lembranças do que realmente aconteceu um dia.
No filme da ótima diretora inglesa e roteirista Sally Potter, nossa preferida Elle Fanning é Molly (a própria Sally?), uma artista cheia de compromissos que tira uma manhã para levar seu pai, que sofre de demência, ao dentista e ao oftalmologista.
O que em princípio seriam algumas horas resolvidas sem problemas com o devido acompanhamento acaba sendo uma odisséia, um trabalho homérico para Molly que tem que lidar com os delírios do pai que vão e vem em ondas alucinatórias atrapalhando a simplicidade aparente de procedimentos rotineiros.
Leo, que apesar de ser um dos personagens mais interessantes de Javier Barden, atrapalha o filme em suas viagens íntimas de uma pseudo consciência, bem alucinada que além de atrapalhar o dia da filha, atrapalha o andamento clássico de um filme que não deveria ter nada de clássico.
Ao lidar com um tema tão complexo e, quem sabe idílico e psicodélico, Potter acaba focando muito do filme na filha, ao invés de nos levar a acompanhar as viagens do pai, de seus caminhos não “caminhados”, das escolhas não feitas.
Ficamos mais preocupados com o atraso de Molly na reunião de roteiro do que com a lembrança de Leo de um amor de juventude na Grécia.
Será que ter uma estrela do nível de Elle Fanning não fez com que Potter tenha feito a escolha errada de roteiro e acabou priorizando a linha errada?
Uma pena, porque Sonhos de Uma Vida tinha força suficiente para atingir níveis estelares de filmes como Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, saindo do nível da fantasia cômica e ficando no drama familiar constrangedor.
NOTA: