De vez em quando eu falo por aqui de um gênero de filme que eu amo, talvez o que mais me fascine ultimamente, que é o horror da vida real.
Pra mim esse gênero (se é que ele existe por aí, mas por aqui é bem ativo) foi elevado a tal com os filmes mais recentes do Mestre David Cronenberg, que é o filme sobre o marido que é um gangster animal e a mulher não sabia, ou o fofo e educado vizinho que é um serial killer e ninguém sabia.
A Assistente seria um drama bem pesado se não se encaixasse melhor no terror da vida real, o que não faz dele um filme fácil, mas sim bem peculiar.
Antes de mais nada, tenho que falar que com certeza muito do filme se deve a sua atriz principal e única a ser citada, a maravilhosa Julia Garner de Ozark.
Se na série ela já levou prêmios como a loirinha doida, aqui ela deveria levar outros como a assistente do título.
Jane (Garner) é assistente (também conhecida como secretária) de um super produtor executivo de cinema americano, é sempre a primeira a chegar e a última a sair na produtora cheia de projetos gigantes.
O filme basicamente mostra o dia de trabalho de Jane, responsável pelo funcionamento não só do escritório como da agenda do seu chefe e no funcionamento geral dos outros funcionários do lugar.
Ela é jovem, bonita, inteligente, que se tornar uma produtora em Hollywood mas é vista só como a loirinha que nem sempre acerta e que palpita mais do que deveria.
Isso pelos homens que estão acima dela, como o filme deixa bem claro.
Só que Jane é super competente e ao contrário do que acham, quase nunca erra. Quando dá uma escorregada, o escândalo é absurdo. Seu chefe, que vemos em uma única cena bem escrota, fala com ela pelo telefone só pra acabar com Jane, dizer que ela não serve pra nada, daí pra baixo
E Jane continua lá, firme e forte porque acredita em seu sonho, apesar de ver que a cada momento de seu dia, esse sonho pode estar mais e mais distante.
O filme da diretora Kitty Green é um estudo bizarro dessas pessoas que fazem a roda girar e de quem não sabemos ou não tomamos conhecimento da sua existência, porque nesse caso, o nome que vai nos créditos do filme, do tamanho do nome do diretor, é o do chefe escroto e abusador.
E o pior é que não é só ele.
O chefe do RH também é escroto.
Ou assistente homens, também são escrotos.
As produtoras mulheres, também são escrotas.
A atriz que dá pra chefe e perde o brinco que Jane acha no sofá da sala fechada, também é escrota.
Na engrenagem a gente enxerga o quanto as pessoas se iludem com seus pequenos poderes e o quanto elas não se importam se estão pisando em alguém, de formas por vezes bem pequenas e sutis que só sente quem tem o dedinho esmagado pelo salto alto do superior.
Esse é o terror da vida real, é enxergarmos em um filme o que não queremos enxergar na vida real. Ou muitas vezes não conseguimos enxergar, não nos deixam, porque além de pisarem no nosso calo, tampam nossos olhos, ouvidos e narizes, bem como os 3 macaquinhos, só que ao invés deles fazerem isso porque querem, ficam com as mãos abaixadas, sem ação, enquanto fazem por eles.
Horror.
NOTA: 1/2