Já que falei de filme gay bom ontem, ainda mais russo, foi falar de uma melhor ainda hoje.
Label Me é um filme alemão curtinho, na cara, sem enrolações e sem melodrama.
A estreia na direção, com roteiro próprio, do diretor de televisão Kai Kreuser é a prova cabal de quem é bom diretor, faz qualquer coisa.
Inclusive um filme gay, pesado, sério, que me transportou até as porradas do Fassbinder da década de 1980.
O filme conta a história de um alemão que uma noite leva um michê para sua casa para descobrir que ele é refugiado sírio, mora em uma casa de acolhida, não é gay, não gosta de contato que seria mais íntimo com homens e só quer dinheiro, ter um lugar para tomar um banho quente e de repente, uma comida melhorzinha.
Acontece que o alemão gosta do toscão sírio, quer vê-lo cada vez mais e quanto mais o encontra, mais tenta algum tipo de intimidade, de um papo sobre a vida a um beijo roubado.
Mas Kreuser em seu roteiro deixa bem claro quem são essas 2 personagens tão profundas, tão cheias de certezas e tão claras para nós espectadores.
O jogo proposto de poder proposto pelo cliente alemão, o loiro de olhos azuis, o rico, vai bem até que a vida (destino?) lhe dá uma chacolahada.
O refugiado sírio, perdido em um país que não é seu, contra sua vontade, sofrendo o tempo inteiro, sendo michê porque não tem opção, é daqueles personagens que não saem da memória.
A beleza dos mínimos detalhes de um roteiro impressionante, sem nenhum buraco ou nenhuma barriga, é um primor.
O que poderia ser um filminho sexual caliente, acaba virando um estudo de jogo de poder, de suas nuances, das voltas que a vida (destino de novo?) dá aos incautos que se acham donos da verdade.
O título do filme, Label Me, (Me Classifique) é um desses detalhes na cara do filme.
Kreuser é um dos poucos caras que conseguiram trazer a porrada dos filmes gays dos anos 1970/80, quase no armário e poderosos ao mesmo tempo, para um tempo de abertura e aceitação ao mesmo tempo que de possibilidade de sutileza junto ao quase explícito não só de corpo mas também de alma.
P.S.: o ator que faz o refugiado sírio é o brasileiro Renato Schuch que eu não conhecia e dá um showzinho no filme.
NOTA: 1/2
Sem trailer.