Desde que Annette Bening apareceu pra mim em Os Imorais em 1990 ela entrou para o meu panteão particular das atrizes loiras americanas que mais me deixavam doido junto com Kim Bassinger e Jessica Lange.
E desde então assisto tudo o que ela faz sem a menor cerimônia.
Hope Gap é o filme com la Annette que eu prefiro esquecer que assisti.
Baseado na história real da separação de seus pais, o diretor mas principalmente roteirista William Nicholson errou na mosca.
Fico sempre pensando dele apresentando a história que ele acha super excitante e doida do divórcio dos pais, de quando ele era bem jovem e consegue convencer uns produtores a bancarem o filme e, claro, dar pra ele dirigir até porque “só eu sei o que passei e como eles foram realmente”.
Não, meu amigo, não.
É para poucos, quase impossível, fazer um filme baseado em sua própria vida atravessando um divórcio traumático, seu ou de seus pais ou de seus filhos.
História de umCasamento acontece uma vez a cada geração, se bobear e por causa disso, Hope Gap foi jogado lá para o fim da fila.
O filme basicamente conta a história de um casal que vive num cenário paradisíaco uma praia em algum extremo inglês que se bobear, eles conseguem enxergar a França do outro lado do canal em dias abertos.
Ela escreve, está pesquisando poemas para uma coletânea e ele é professor de história.
Vivem uma vidinha sem graça, onde ele se arrasta e ela altiva e mais presente que ele, pede chá, pede carinho e bate em sua cara quando ele menos espera.
Só que eles tem seus 60 e poucos anos de idade já, não são jovenzinhos hipsters em suas vidas bestas.
Quando seu filho adulto os visita em um final de semana ele avisa que vai se separar dela, para choque de todos.
Ela pira, ele diz que já tem uma namorada, que vai morar com ela e pasmé, faz a mala e sai de casa.
Até aqui, os primeiros 10 minutos de filme, Hope Gap é lindo, com um roteiro super bem escrito e uma direção muito bem acertada.
A partir da separação, a coisa desanda de uma forma impossível de ser arrumada.
Ela vira uma doida que não se conforma que foi largada por outra.
Ele a gente mal vê, porque como disse antes, é um palermão e parece que nem o diretor/filho se interessa por sua vida.
O foco na mãe é tão óbvio e explica tanto o roteirista Nicholson que dá até pena dele à medida que o filme vai se desenrolando e o filho, que até então não estava nem aí para seus pais, começa a pagar pau pra mãe abusiva e capaz de um tipo de violência moral contra seu ex marido que dá raiva.
Ela, a mãe, é Annette Bening. Obviamente que ela está muito bem, apesar de eu não conseguir entender seu sotaque, absolutamente diferente do marido e do filho. O problema não é a personagem, ou melhor, até é, mas acho que o problema seja a mãe da vida real, que deve ser insuportável.
Ele é Bill Nighy que depois de muitos e muitos filmes, tem um papel de “gente normal”, já que o veterano ator inglês sempre faz algum personagem totalmente caricatural, se bem que o marido bundão é uma caricatura quase ruim, mas ele segura a onda, principalmente quando baixa a voz, a cabeça e leva sua vida.
O filho é vivido por um dos atores ingleses que tem aparecido bem ultimamente, Josh O’Connor, que aqui quase some nas cenas com Annette, que são quase 100% de suas cenas, mas segura a onda como pode.
Por isso tudo, pelo filme ser focado nesses 3 personagens em uma história que daria no máximo um média metragem bom, Hope Gap é um desses mistérios para mim de como foram levados a serem feitos.
NOTA: 1/2