Imagina o seguinte: o mestre dos mestres Jodorowsky casa com o cinestas mais esteta possível e místico Tarsem e juntos tem um filho.
O moleque com certeza o diretor de Maria e João, Oz Perkins.
Só não é por um detalhe crucial: Oz é filho do ícone, do deus das telas Anthony Perkins, ninguém menos que Norman do Bates Motel de Psicose do Hitchcock.
Daí só poderia sair coisa boa.
Oz, filho do Norman Bates, herdeiro estético e místico de Tarsem e do Jodorowsky, teve a manha de transformar a historinha infantil quase fofa em um horror lindo, João e Maria, aquela que o casal de irmãos é preso por uma bruxa que os faz comer até crescer pra deles se alimentar.
Primeiro: percebeu que mudou o nome da história? O empoderamento feminino chegou à literatura infantil. Assim achei eu.
Maria e João é do mal, um horrorzinho de não poupar quase nada.
O filme começa muito bem, primeiro contando a história da bruza, de como ela “virou bruxa, na verdade, de sua infância e tal. Aí já vemos o quanto A Montanha Sagrada de Jodorowsky é quase que o fio condutor estético desse horror caipira.
(E não, o filme não tem nada a ver com nosso preferido A Bruxa, apesar de muita gente querer jogar os 2 no mesmo balaio. Preguiça crítica é foda.)
Maria e João então nos são apresentados e saber como eles pararam na floresta da bruxa é bem interessante, porque explica muito dos irmãos e de como eles vão agir dali pra frente.
Todo mundo conhece a história clássica mas no filme, Maria é mais velha que João, uma adolescente esperta demais, que se liga em abuso e que protege o irmão mais novo a qualquer custo.
Cena já clássica no início: os 2 pela floresta, com muita fome, comem cogumelos vermelhinhos com bolinhas brancas, os mais mágicos possíveis, sem saber e começam uma viagem psicodélica de dar gosto.
Logo depois acham a casa da bruxa e eu já achei que talvez fosse delírio da psilocibina, mas não. O horror é real.
A bruxa é foda, as crianças acreditam na velhinha que lhes oferece toda a comida que podem querer e eles comem.
E comem.
E comem.
Até a barriga doer e eles sentirem cada vez mais fome.
Maria e João tem uma virada estética bem interessante, que acaba sendo uma forma de repensar o clássico e contar a história que todo mundo conhece de uma forma absolutamente nova.
Nada é simples, nenhuma cena é desperdiçada esteticamente nem artisticamente com a direção no controle de cada detalhe por menor que a gente pense que seja e descobre lá na frente que tudo tem o seu propósito.
Mas essa estética linda, a direção de arte primorosa, a fotografia de babar e a trilha mais tenebrosa de todas, acabam desviando o filme de um caminho que muito bem vinha trilhando.
A definição físico-espacial, acaba sendo um porém impossível de se relevar.
Mas Maria e João, no final das contas, é um belo de um horror fantástico, muito bem dirigido, de encher os olhos de tanta imagem linda e o melhor de tudo, uma surpresa vinda das mãos e da alma do diretor Oz Perkins que eu só imagino o que ele fará em sua próxima experiência fílmica, já esperando que seja tão profunda como esse (não)infantil.
NOTA: 1/2