Lil Peep, o rapper morto em 2017 aos 21 anos de idade de overdose, não era um artista com quem eu tinha muita intimidade. Quando fiquei sabendo da notícia, tive que me lembrar qual dos rappers novinhos cheios de tatuagem no rosto era Peep.
Neste filme ficamos sabendo não só sobre a vida de Gus, mas principalmente ficamos sabendo como o moleque tímido meio punkzinho mudou a cara da música com esse mistura: ele canta como um vocal de uma banda emo só que num grupo de hip hop; vivendo como os punks viviam e como tudo isso o encaminhou para seu fim.
Para o bem e para o mal.
O cara reinventou tudo, fez o que queria fazer e não teve um produtor com a manha de dizer que o que ele fazia não existia e não podia.
Lindo demais de se ver.
Acontece que mais que um filme jornalístico sobre sua vida, cronologicamente, mostrando o que fez e como chegou onde chegou, Everybody’s Everything mais parece o velório de Lil Peeps, onde amigos, conhecidos, família, gente da indústria, todos falam sobre o astro.
Tudo isso entremeado por cartas que seu avô lhe escrevia, um cara que tinha lutado com a esquerda radical mexicana e ensinava a seus netos os valores que acreditava e que Lil Peep tão finamente usava no caos do seu dia a dia.
Se você como eu conhece mais dele pela notícia da morte do que pela música, este filme é perfeito porque nos distancia educadamente da aura de pop star que Gus ganhou ao final de sua vida, desfilando na Fashion Week de Paris e recheando as revistas moderninhas em fotos de Mario Testino.
A história do moleque lindo, de olhos gigantes (daí o apelido de Peep de infância que sua mãe lhe deu), que se tatuava no rosto radicalmente para quebrar esse paradigma, para ser visto como um “fodão” mesmo e não como um bonitinho que não deveria estar lá mostra o tanto da angústia que sofria o “Ghost Boy”.
Ver o menino que adorava fumar maconha encaminhar aos poucos para a festa de drogas e mais drogas desenfreadas em suas mãos é de trazer lembranças de arrepiar: quando o cara fica um pouco famosinho, a primeira coisa que as pessoas que querem se aproximar é através da droga. A galera que chega com pó, ácido, pílulas, heroína, crack, só não é maior no filme porque não daria tempo de mostrar.
Ver Lil Gus Peep sofrendo fisicamente esse abuso, o quanto isso já está lhe causando é de cortar o coração: de moleque animado e zumbi arrastado é algum tempo de turnê grande.
A cena dele encontrando 3 irmãos num aeroporto russo, seus fãs, sem a histeria de fandon em volta, onde ele conversa normalmente, pergunta se eles brigam, tenta criar uma intimidade com moleques da sua idade e já não consegue, apesar de lembrar de seu irmão, é de cortar o coração.
Conhecer como funciona a trama musical da era do soundcloud e do instagram, da rapidez dos beats criados vendidos e usados e trocados e criados em computadores sem vergonha nas salas de casa desses moleques é uma das cosias lindas do filme, mostra que a criatividade, o gênio e o dinheiro está ali (vê-se Billie Eilish e seu álbum multi feito em casa com o irmão).
O filme não poderia ser melhor com essa vibe de eulogia, de amigos e familiares e conhecidos, colegas, falando do quanto Lil Peep era genial enquanto seu corpo está esfriando na sala ao lado esperando para o último adeus.
O melhor Adeus.
NOTA: 1/2