Já que não temos filme novo do Mestre dos mestres David Cronenberg, vamos de filme novo com David Cronenberg.
Clifton Hill é um thriller, ou um noir até, canadense com ótimas ideias em um roteiro mediano pra bom.
O filme conta uma história de um desaparecimento contada 30 anos depois do fato por uma mentirosa compulsiva.
Pra piorar, o tal desaparecimento foi um crime elucidado à época, quando o filho adolescente de um casal de mágicos se suicida pulando nas cataratas de Niagara.
Já aí começa uma das coisas ótimas do filme: a cidade onde ficam as cataratas parece um balneário decadente, um lugar onde turistas chegam e se vão sem perder muito tempo por lá e por isso, um lugar besta, sem aura nenhuma, com uns moradores que estão ali pra fazer número e servir esse povo que não dá a menor bola pra onde está e com quem interage.
A mentirosa compulsiva, que ficou por anos sem voltar a cidade, que presenciou um fato que pode estar ligado ao desaparecimento do adolescente, de repente se lembra que o encontrou momentos antes dele ser abduzido enquanto apanhava muito.
E ela se lembra de quem o levou.
Mas ninguém acredita nela.
Entra em cena ele, o homem, o mito, David Cronenberg, como um mergulhador bizarro que procura objetos valiosos jogados na famosa queda d’água que acabam sendo levados pela correnteza até um ponto do rio que forma quase que um lago.
Por vezes, o mergulhador encontra pedaços de corpos destroçados quando os suicidas se jogam nas cataratas.
A mentirosa e o mergulhador e doidinho da cidade chegam à conclusão que o menino não se jogou, já que ele não achou restos do corpo e ela viu ele sendo levado por pessoas que não eram seus pais.
A partir disso, o roteiro vai virando um bolo de rolo de tanta volta que dá, cheio de soluções esdrúxulas para os mistérios que vão surgindo.
O clima do filme é o de um Twin Peaks nível C-, feito com pouco dinheiro, muita boa vontade mas sem tanta inspiração nem transpiração.
Todos os elementos estão presentes: mistério, que é meio besta; personagens estranhos, mas nem tanto; lugares pitorescos, mal aproveitados; fotografia bunda mole; mocinha de noir sem carisma nem sex appeal; quase uma dezena de vilões que viram uns bandidinhos de meia pataca, já que o problema não é grande o suficiente pra ter tanta gente do mal.
E o que é do mal, fica quase em segundo plano, quase que escondido pra não “chocar” o público normal.
Um filme que poderia ser ótimo mas que fica nessa pasmaceira para não chocar muito, se em princípio a ideia era essa, que se perdeu nas quedas d’água dentro de um barril emprestado pelo pica pau.
NOTA: