Nosso velho e bom Alfred Hitchcock, o mestre dos mestres, dizia que existem dois tipos de filme de suspense, nosso amado thriller: o primeiro é o “whodunit”, quando a gente não conhece o vilão, o assassino, o ladrão, até o final do filme; o segundo é quando a gente já sabe de cara quem é o vilão e passamos o resto do filme entendendo como ele chegou a ser o que é.
Para ambos os tipos de filmes, a necessidade número 1 é ter um roteiro impecável, para nos surpreender a cada sequência, a cada revelação.
E o melhor, o melhor roteiro é aquele que junta todas as pequenas partes do filme para justificar os atos do vilão. É quando a gente descobre que aquele personagem secundário lá do canto também contribuiu para a história de alguma forma absurdamente genial.
O espanhol O Segredo da Cidade Branca, lançado na Netflix, é um suspense que a gente sabe quem é o vilão desde quase o começo, o que já é um erro. Aos poucos vamos percebendo, com dicas muito descarados, os motivos dele fazer o que faz. E o pior, a história dele nem sempre é relevante o suficiente.
O filme é uma mistura de Dan Brown, de segredos religiosos, para criar uma simbologia bem boa, bem linda, ainda mais porque o filme se passa em uma cidade medieval espanhola, cheia de igrejas gigantescas, corredores subterrâneos infindos e passagens e escadas nos topos dos prédios, prontas para sequências de perseguição a pé.
O vilão do filme em princípio está preso, depois de ter matado casais ritualisticamente: primeiro um menino e uma menina de 5 anos de idade, depois um casal de 10 anos, outro de 15, sempre em locais bem específicos da história longínqua da cidade. E ele “entrega” os mortos sempre da mesma forma, um deitado ao lado do outro, com os braços postos especificamente e com flores cobrindo as genitálias.
Apesar do vilão estar preso, as mortes voltam a acontecer e voltam a ter o mesmo padrão, agora com um casal de 20 anos, depois 25 anos e assim por diante. E o vilão preso acaba servindo de consultor/Hannibal do policial que o prendeu e que agora volta à ativa por ser o maior conhecedor do caso antigo.
Todas as referências e a iconografia de O Silêncio da Cidade Branca são ótimos, o problema é que o roteiro é tão cheio de pontas soltas e explicações bestas que vai dando raiva. Nada pior do que um personagem explicar para outro algum significado óbvio qualquer, meio que dando a entender que o espectador não tinha “captado a mensagem, amado mestre” roteirista. Cadê as surpresas desse suspense?
O que me deixou animado com o filme foi da possibilidade de ter um filme brasileiro desses, com nossas lendas e crendices. Seria lindo.
NOTA: 1/2