Hoje é dia 29 de fevereiro, aquele diz de sorte que só ocorre a cada ano bissexto, de 4 em 4 anos.
É o dia que mulher solteira pode pedir homem em casamento (segundo uma lei escocesa de 1221) e o dia de 0,07% da população mundial que nasceu nesse dia tão auspicioso comemorar aniversário (a cada 4 anos), como meu sobrinho Giovanni.
Por isso eu resolvi falar de um puta de um filme, um #alertafilmão dos melhores, do mexicano Os Tigres Não Têm Medo.
O filme não é lançamento, mas eu demorei um tempão pra assistir e guardei pra nesse dia especial, dizer o quanto você tem que vê-lo.
Li muito por aí que Tigres é o Pixote mexicano, o que é um belo elogio pra Pixote que já virou referência no cinema, meio que “filme de infância perdida na miséria e no crime” é filme Pixote, tipo Cafarnaum, lembra?
Os Tigres Não Têm Medo mostra a vida de Estrella, a menina dos seus 12 anos de idade que, depois do desaparecimento da mãe, vai vier na rua com um bando de outros moleques, todos mais novos que ela.
Viver na rua, literalmente.
Ou melhor, tentar sobreviver na rua, sem ter onde morar, o que comer e alguém que tome conta deles se não eles mesmos.
Pra piorar, os bandidões que sumiram (ou não) com a mãe de Estrella estão sendo ameaçados pela menina e sua nova família de serem dedurados para a polícia porque as crianças ficaram com o celular do chefão, cheio de informações, claro, que o incriminam.
Acontece que um bando de moleque, por mais que tenham a malícia da rua, a esperteza da sobrevivência em situações extremas, em princípio não é páreo pra bandidos de verdade, sem dó nem piedade.
Estrella e seus companheiros vão ter que se virar, arrumar formas e lugares para não serem encontrados de maneira nenhuma.
E vão contar com a ajuda das histórias de valentia e poder e astúcia dos tigres, seus animais espirituais, no melhor desenho animado possível para um filme com uma história desgraçada como esse.
Tigres Não Têm Medo é meio que uma mistura de um surrealismo infantil com a violência radical de bandidos do submundo do crime.
Como se Buñuel fizesse um filme infantil inspirado no Takashi Miike, inclusive usando um pouquinho de um humor bizarro do diretor japonês.
Brutal, místico, fábula (sub)urbana, poético, ultra violento, Tigres Não Têm Medo é um filme sem vergonha de ser tudo isso e ir a fundo de cada um desses adjetivos e se aproveitar das possibilidades estilísticas e éticas disso tudo.
Tigres é um filme mexicano que poderia ter sido filmado em qualquer periferia de cidade grande brasileira onde essa história deve acontecer toda semana.
Mas ao invés de assistirmos um filme apelativo com ares de programa apelativo das tardes da televisão brasileira, vemos uma história sendo contada com uma leveza e uma beleza tirada do lodo e que quando menos esperamos, nos levou para dentro de sua crueza e de sua verdade de uma forma que a gente não consegue mais sair delas.
NOTA: