Depois de tanta papagaiada dos últimos dias com filmes bem mais ou menos, vamos de surpresa das melhores.
Dogs Don’t Wear Pants (cachorros não usam calças) é o que a dominatrix diz para seu escravo a primeira vez que ele entra em seu dungeon.
Além de ser o título deste filmão finlandês, sobre o relacionamento deste não-casal, mas principalmente sobre um homem encontrando seu espaço depois de um trauma muito grande.
Juha, um cirurgião cardíaco renomado, perdeu sua esposa afogada em um acidente. Desde então, vê a vida passando e nada faz além de suas obrigações diárias: trabalhar e cuidar da filha adolescente, sendo que muitas vezes ele se atrapalha com tudo.
Em um dia que leva a filha para colocar um piercing na língua, descobre no andar de baixo do estúdio de tatuagem o tal dungeon de Mona, a dominatrix que já chega nele chegando. (A sutileza dessa condução de história é muito linda.)
A partir de então, Juha descobre a vida de novo através de visitas a sua nova mestra, visitas essas que vão cada vez mais beirando a percepção de vida e morte, que sempre paira sobre a mente do cirurgião que, numa das cenas punks do filme, vê sua mulher morrendo.
E de cenas punks DDWP está cheio: o filme começa com detalhes, closes mesmo, de uma cirurgia cardíaca de “peito aberto”, depois já mostra um pinto feio mole, o afogamento e vai que não para mais.
O que me interessou muito no filme foi o enfoque da relação BDSM do cirurgião, que tem a vida de pessoas em suas mãos, com sua dominatrix, que acaba tendo a vida dele em suas mãos e, com um toque de mestre, só percebe o quanto está colocando a vida dele em risco a partir das mãos do próprio cirurgião.
Parece enrolado mas nem é, e essa é a grande virtude do filme de J-P Valkeapää.
Outra delas foi ter Pekka Strang como o cirurgião Juha. Strang é o atro principal da cinebio de Tom Of Finland que nem é um bom filme mas que o que tem de bom é graças ao ator.
Eu não assisti aquelas bobagens dos 50 Tons de Cinza mas pelo que sei do que acontecia por lá, Dog s Don’t Wear Pants está anos luz à frente em relação ao BDSM.
Principalmente por levar o (não) casal principal a extremos sem nos meter medo ou nojo (como li em uma crítica) e por fazer com que o desenvolvimento das duas personagens seja muito mais impressionante do que qualquer espectador possa imaginar. Bravo!
NOTA: