Com Os Miseráveis eu termino as resenhas sobre filmes que concorrem ao Oscar 2020.
Não escrevi sobre todos os concorrentes porque vários deles não me interessam como público, tipo o dos carros (quem ainda assiste filme de carro, minha gente?).
Os Miseráveis é o concorrente francês ao prêmio de melhor filme de língua estrangeira e já começo dizendo que na possibilidade de indicarem Retrato de Uma Jovem Em Chamas, que é melhor que todos os filmes concorrentes empatado com Parasita, a França fez uma escolha tão errada quanto o Brasil.
Quer dizer, nem tão errada já que o brasileiro não ficou entre os 5 indicados.
Os Miseráveis não é um filme ruim, muito pelo contrário.
Dividiu com Bacurau o Prêmio do Juri em Cannes, o que não é pouco.
Mas o filme é um pouco mais do mesmo que estamos acostumados a ver em histórias de periferia onde a molecada comete crimes bestas e a polícia cria tempestades em copos de água.
De novo, não que isso seja ruim, até porque, diferentemente do que vimos no Brasil, por exemplo, no filme francês a gente vê mesmo o quanto a mistura de raças existe nessa periferia parisiense, “tão perto e tão distante”, como diria o poeta alemão.
Ladj Ly, o diretor do filme, é a grande coisa de Os Miseráveis.
Se esse é o primeiro filme do cara, fico com borboletas no estômago esperando o que vem por aí.
Tratar de conflitos raciais, de pobreza, de drogas, de fome, de violência como ele trata nesse filme é para poucos.
E ele sabe do que está falando, já que mora até hoje em Montfermeil, a periferia tratada no filme, o que nos mostra de cara que não existe aquele olhar “estrangeiro” ao tema.
E claro, o título emprestado de Victor Hugo faz com que aquele original apareça no filme todo, só que na desgraça dos dias de hoje.
A história do primeiro dia de trabalho de um jovem policial em meio a seus companheiros reticentes, cada um com uma história única e peculiar e ainda os bandos de ciganos, negros, africanos, árabes, crianças que aparecem pela frente fazendo com que as certezas logo sejam vistas escorrendo como água em meio aos dedos de suas mãos sem que ele possa fazer nada para recuperá-las, senão começar todo dia do zero.
Quer dizer. Assim ele achava até saberem que um garoto com um drone (o filho do diretor, aliás) filmasse uma ação extrema desses policiais. Desespero? Muito, mas não o que ele esperava.
NOTA: 1/2